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domingo, junho 22, 2003

o patim da Aurora*
Roios é um outro mundo. Provavelmente, todas as aldeias que ainda resistem o são mas Roios foi a primeira que conheci sem ser de passagem. As ruas estreitas, as casas muito próximas, os patins das casas a fazerem antever o infinito das paisagens, os reencontros e as memórias que têm o tempo dos afectos, o estranho que logo deixa de o ser e tem a porta sempre aberta, os jovens que não são assim tão poucos, os velhos que não esquecem, a noite de S. João no largo da Igreja onde quase toda a aldeia acorre, a música e a alegria. Não recordo uma cara triste ou sisuda ou zangada. E uma certa sensação a liberdade que fica depois de tudo isto. Como se não importasse a ausência de certas coisas que temos como certas, neste outro mundo onde vivemos. Provavelmente importam mas qualquer um sucumbe à  doçura da Aurora, no seu patim, a meio da noite, a contar-nos da imensa tristeza que sentiu quando construiram a casa em frente e lhe tiraram a imensidão do olhar. Mas ainda ficou esta nesga, sorriu ela, resignada, nos seus pequeninos oitenta e nove anos.

Roios é um outro tempo também, onde as serenatas ainda perduram na ponta dos dedos.


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