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segunda-feira, julho 28, 2003

regresso a Roios*
Os degraus imperfeitos da casa eram blocos de granito sobrepostos sobre o xisto e possuíam a redonda irregularidade das histórias que entretanto se perderam para além do fraguedo do Castelo. Um dia, contar-se-á que as histórias afinal não partiram mas que se agarram ao último prego que agora repousa debaixo da terra quente, como que à espera de uma daquelas noites em que as violas saíam em ronda e serenatas pela rua, os amores à espreita por causa do luar.

Depois do portão de madeira que ainda se fecha sobre o patim o tempo acumula-se sobre a respiração das coisas. Sobre a água que não lava no tanque, sobre a porta por onde os regressos não se fazem, sobre a cozinha de onde o aroma a cevada não mais desperta as manhãs, sobre o copo de vinho que voltas a colocar no aparador tão intensa é a contagem das madrugadas que persistem nas tuas mãos, sobre as gavetas da cómoda onde os espí­ritos se escondem do espanto dos homens que vieram depois e não sabem ler os uivos da alcateia, sobre as camas feitas para as confidências que na penumbra me irás contar, sobre a inclinação do sótão que um dia rasgou paisagens como só a lua sabe rasgar a noite de mansinho. Cada coisa, cada aresta, cada recanto, cada segredo ainda guardado tinha raízes nesses longes que um dia foram mágoas, ou medas onde à noite te debruçavas sobre o rosto das estrelas.

À saída, não se tropeça nos degraus imperfeitos da casa mas sente-se que a noite vai cair em precipí­cio de negrura. Há coisas que nem a imensidão do tempo consegue quebrar.

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