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quarta-feira, julho 02, 2003

SenhorE*
Estamos esquecendo isto que agora
vêem os olhos. Vai indo
para um país aonde mesmo a sombra
só tem espessura de se haver esquecido.
Estamos esquecendo. Ou estão as coisas
a perder-se pelo limbo
por onde o brilho de se tornarem nossas
as faz objectos atávicos do espírito.
E, quando o esquecimento as incorpora
segundo a sua natureza, o sítio
surde matinal da sombra
para onde haviam ido.
E o seu perímetro inédito de lomba
de novo emerge. Traz um fulgor antigo.


Fernando Echevarría, Geórgicas, Edições Afrontamento, 1998

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apetecia-me comentar, mas quando leio este senhor tudo o que me ocorre é o sorriso ditado pela impressão da sintaxe (tanto que me agrada a sintaxe em echevarría), junto deste sentir (que se fosse sorriso seria ainda mais largo que o anterior) que me diz já tudo estar dito. aqui, da minha pequenez, arriscaria a dizer que echevarría se arrisca a uma poesia difícil e isso, nos tempos que correm, é d'homem. e a gente quase se perde na densidade formal (às vezes, sinto-o tão denso que quase não me deixa entrar, mas sou teimosa e furo - se calhar é apenas inépcia minha), para depois se banhar nas águas muito limpas daquilo que nos revelam, uma a uma, as palavras. falava a sandra de simplicidade, aqui há dias, e de imediato nos confrontamos com a dificuldade de entender e, pior, de formalizar o que é isso de simplicidade, como se consegue, por que meios e, até mesmo, com que fins. insisto, é tão difícil medir isso... e depois, meto os pés pelas mãos e penso que tem que ter a ver com qualquer coisa como a verdade. leio este senhor e convenço-me que ele sabe dessa verdade interior das coisas a elas e a nós intrínseca.


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