sábado, agosto 09, 2003
apresentando David a claire #2*
«A esta hora? A esta hora, em Tóquio e em Quioto já serão três ou quatro da tarde. E subitamente percebes - como nunca até hoje te aconteceu - que esta madrugada, depois de ter passado, há umas poucas de horas, por um lugar onde neste instante poderias encontrar-te, ainda é a mesma, no fim de contas, que também ontem aqui se anunciou, a mesma que já anteontem aqui surgiu, a mesma que vem da semana anterior, do ano passado, do século transacto, de há milhares de outros séculos, de há milhares de milénios, a mesma-sempre-diferente desde o começo do Mundo. Sempre a mesma madrugada a correr atrás da Terra. Ou, melhor, sempre a Terra no encalço da mesma madrugada.
Sabes, Erika? Enquanto sobre a Terra te encontrares, não poderás impedir-te, mesmo que o não saibas, de também procederes, melhor ou pior, como a própria Terra vai procedendo.»
in Erika e a Madrugada, 1980
David Mourão-Ferreira, As Quatro Estações, Ed. Presença, 1998
«A esta hora? A esta hora, em Tóquio e em Quioto já serão três ou quatro da tarde. E subitamente percebes - como nunca até hoje te aconteceu - que esta madrugada, depois de ter passado, há umas poucas de horas, por um lugar onde neste instante poderias encontrar-te, ainda é a mesma, no fim de contas, que também ontem aqui se anunciou, a mesma que já anteontem aqui surgiu, a mesma que vem da semana anterior, do ano passado, do século transacto, de há milhares de outros séculos, de há milhares de milénios, a mesma-sempre-diferente desde o começo do Mundo. Sempre a mesma madrugada a correr atrás da Terra. Ou, melhor, sempre a Terra no encalço da mesma madrugada.
Sabes, Erika? Enquanto sobre a Terra te encontrares, não poderás impedir-te, mesmo que o não saibas, de também procederes, melhor ou pior, como a própria Terra vai procedendo.»
in Erika e a Madrugada, 1980
David Mourão-Ferreira, As Quatro Estações, Ed. Presença, 1998