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terça-feira, agosto 19, 2003

(in)consistências*

I

Sob um círculo de fogo
suspenso pólen sobre a tarde
flutuam as imagens todas
fugidias como as paisagens ofegantes
que passam pelas gáveas.

Reinventas uma flor sobre a ondulação
do meu desejo
e os nomes rarefazem-se.

Hoje o dia consentiu que um azul circunstancial
morresse ao primeiro canto do mar.

II

Volúvel é o silêncio das frases que não adquirem
matéria poética por serem quotidianas:

há uma pedra à entrada de cada poema
como um aviso

"volte mais tarde, o desejo
também se faz de beijos que ficam por dar".

III

Repara como o poema tem a consistência
de uma pedra polida rente à púbis do tempo:

há peixes a coincidir com o crepúsculo
uma penumbra que levanta as saias da noite
e uma poalha de estrelas que desfaço na boca

porque a tua língua evidencia a minha nudez.

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A propósito de um poema que encontrei a Oeste, apeteceu-me resgatar este do armário, sacudir-lhe o pó, apreciar-lhe as feições e dar-lhe um pouco do crepúsculo que acontece à minha esquerda. Afinal nenhum outro destino lhe está reservado senão voltar ao armário e prolongar o sono das coisas acontecidas. A quem já o leu noutras andanças, as minhas desculpas pela repetição. O tempo é de blogagem mínima e poesia quase nula.

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