terça-feira, setembro 23, 2003
fulutchin*
sempre que os oiço, entre outras coisas, penso porra pá!, tenho de escrever qualquer sobre eles lá no blog (é esta mania do serviço público, não sei), depois perde-se a ocasião, que é como quem diz, vence a preguiça.
foi assim de novo ontem à noite.
parte do problema prende-se com o não me achar muito capaz de falar no assunto, afinal não percebo nada de música. serei facilmente impressionável. e que dizer se não isso? que estes tipos, este trio barulhento, sempre me impressionam? e porque não? é tal e qual. estou desconfiada que são mesmo bons, mas dos bons mesmo. azar de quem os perdeu, à borla (ser bom não é o mesmo que encher estádios, às vezes até pode ser, mas...), na praça do giraldo (évora), no passado domingo. os senhores gregg moore (americano), umas vezes no baixo, outras vezes na tuba; rui gonçalves (português), numa bateria que não acaba nunca; e alípio carvalho neto (brasileiro), umas vezes num saxofone, outras vezes noutro, outra vez ainda em ambos e lá pelo meio a sua voz lançada de um megafone. e se fosse só o talento, mas não é só, eles têm piada, sentido de humor mesmo, raro não?
algumas pessoas não suportaram aquilo e viram-se forçadas a retirar-se, talvez esperassem qualquer outra coisa mais comportadinha. foi o caso de duas senhoras de cabelo armado que se levantaram aos primeiros (des)acordes de uma construção que os fulutchin fizeram de uma das mais aclamadas cantiguinhas da música popular portuguesa... sim, porque eles vão a todas, não é só thelonious monk. falava de uma versão de "ao passar a ribeirinha", segundo o alípio, estrutura que permite paralelismos ao haiku japonês (foi aqui que a coisa estremeceu, as senhoras olharam uma para a outra com ar desconfiado. haiku?! japonês?! que maluquice, então não era dos açores?), e realmente... ora veja-se:
ao passar a ribeirinha
pus o pé
molhei a meia
não está mal pensado, não senhor.
queria, já que falo neles, dar um nome ao que fazem. é jazz, com certeza, mas posso dizer que é free jazz? pelo menos, acho que "também" pode ser isso. posso dizer que é world music ou coisa que o valha? também tem que ser um bocado disso. mas deve ser ainda uma outra coisa, como convém ao que nos seduz -- sempre uma outra coisa, que escape, que fuja, mas sempre dentro da nossa mira, que nos tente e provoque e que nos faça vibrar, mesmo que não saibamos onde exactamente no centro de nós atinge, ou como aí segurá-la. e de que adianta nomear e catalogar tudo? talvez ainda me encha de coragem e resolva perguntar aos próprios, tão perto que eles estão... suspeito que ririam da pergunta.
seja como for a minha parte já está feita, eu já avisei, vale a pena dar-lhes ouvido, vale muito a pena. é pecado deixar escapar. um trio de mão cheia.
encontrei esta foto do gregg -- a net é este reservatório imenso.
sempre que os oiço, entre outras coisas, penso porra pá!, tenho de escrever qualquer sobre eles lá no blog (é esta mania do serviço público, não sei), depois perde-se a ocasião, que é como quem diz, vence a preguiça.
foi assim de novo ontem à noite.
parte do problema prende-se com o não me achar muito capaz de falar no assunto, afinal não percebo nada de música. serei facilmente impressionável. e que dizer se não isso? que estes tipos, este trio barulhento, sempre me impressionam? e porque não? é tal e qual. estou desconfiada que são mesmo bons, mas dos bons mesmo. azar de quem os perdeu, à borla (ser bom não é o mesmo que encher estádios, às vezes até pode ser, mas...), na praça do giraldo (évora), no passado domingo. os senhores gregg moore (americano), umas vezes no baixo, outras vezes na tuba; rui gonçalves (português), numa bateria que não acaba nunca; e alípio carvalho neto (brasileiro), umas vezes num saxofone, outras vezes noutro, outra vez ainda em ambos e lá pelo meio a sua voz lançada de um megafone. e se fosse só o talento, mas não é só, eles têm piada, sentido de humor mesmo, raro não?
algumas pessoas não suportaram aquilo e viram-se forçadas a retirar-se, talvez esperassem qualquer outra coisa mais comportadinha. foi o caso de duas senhoras de cabelo armado que se levantaram aos primeiros (des)acordes de uma construção que os fulutchin fizeram de uma das mais aclamadas cantiguinhas da música popular portuguesa... sim, porque eles vão a todas, não é só thelonious monk. falava de uma versão de "ao passar a ribeirinha", segundo o alípio, estrutura que permite paralelismos ao haiku japonês (foi aqui que a coisa estremeceu, as senhoras olharam uma para a outra com ar desconfiado. haiku?! japonês?! que maluquice, então não era dos açores?), e realmente... ora veja-se:
ao passar a ribeirinha
pus o pé
molhei a meia
não está mal pensado, não senhor.
queria, já que falo neles, dar um nome ao que fazem. é jazz, com certeza, mas posso dizer que é free jazz? pelo menos, acho que "também" pode ser isso. posso dizer que é world music ou coisa que o valha? também tem que ser um bocado disso. mas deve ser ainda uma outra coisa, como convém ao que nos seduz -- sempre uma outra coisa, que escape, que fuja, mas sempre dentro da nossa mira, que nos tente e provoque e que nos faça vibrar, mesmo que não saibamos onde exactamente no centro de nós atinge, ou como aí segurá-la. e de que adianta nomear e catalogar tudo? talvez ainda me encha de coragem e resolva perguntar aos próprios, tão perto que eles estão... suspeito que ririam da pergunta.
seja como for a minha parte já está feita, eu já avisei, vale a pena dar-lhes ouvido, vale muito a pena. é pecado deixar escapar. um trio de mão cheia.
encontrei esta foto do gregg -- a net é este reservatório imenso.