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terça-feira, setembro 23, 2003

[o tesouro de agosto foi este livro, por razões várias...]*
Abriguei-me onde mais aflorou o teu instinto; cobri-me com a distância que me cercava, me acercava de ti, e ressalvei das palavras esse corpo que não atingi, que nunca atingirei.
Por de mais, por demasiadas coisas, eu haveria de ferir-te à profundidade que nada esclarece mas tudo pressagia. Haveria de ferir-te -- é isso --, mas guardarei de ti outra ferida e outro bálsamo. Não discutirei a morte sem, de novo, te tocar; sem reduzir o infinito a nenhuma lágrima. Da morte pouco sei, como pouco sei de ti; sei de mim em ti, sempre o soube (ainda as minhas mãos se não tinham confundido com os teus olhos), e essa foi uma razão de não saber amar-te, de não poder chegar seguro onde a tua nudez me desabrigou e fez tiritar diante do meu corpo, como num espelho de água. Ouve-me agora, quando ao falar de ti me reconheço; ouve-me ainda quando, por nunca ter sabido dar, já não recuso.
Não quero justificar-me: tu não merecerias tanta culpa.
Vou onde não saberei de ti. E continuarei até onde, de nós, repetirei o impossível.


Joaquim Pessoa, Fly, Litexa Portugal 1983


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