segunda-feira, dezembro 01, 2003
imagias #8
Henri Rousseau, The Sleeping Gypsy
não tenhas medo, é só um sonho. não há vampiros fora do quarto. na verdade, não há vampiros. acorda, vê se acordas, que isto é só um sonho. mas acorda, por favor, que mais do que um sonho mau, é dos que te fazem mal. não deixes que continue, pára com isso, acorda.
não tenhas medo, nunca o teu quarto esteve cheio de cobras. nem alguma vez estará.
não acredites, é um sonho. não é culpa tua, o sonho. que disparate, não chupaste o teu pai contra a sua vontade. pára de chorar. vais acordar com os olhos inchados. todos vão pensar que levaste a noite a chorar e ninguém vai acreditar que dormias. vamos, acorda, põe mão nisto.
não tenhas medo, não há um leão à socapa na noite, sobre o teu corpo. digo-to eu, será seguro e calmo se acordares. será brando e terno.
acorda. sabes que te receberá com um abraço todo braços e todo beijos. que te apertará junto a si e te dirá que já vai passar que não tenhas medo que já vai passar. sabes que só não te dá o que não pode, que o erro é teu, por quereres mais. sabes que é em sacrifício que se dá. sabes que não estarás mais só do que ontem, nem mais triste. só o cansaço será mais pesado, porque te permites estes sonhos, por isso importa que acordes.
um dia vais enlouquecer no sono, depois não sei como será. talvez não muito diferente, afinal. imagino que aí sim, um leão, velho. aí sim, o medo constante, e os resíduos de culpas e vergonhas de coisas que não sabes se sonhaste. não reconhecerás o abraço e a garganta vai estar presa de uma vontade mal engolida de correr o mundo. imagino que à procura. imagino que a fugir.
Henri Rousseau, The Sleeping Gypsy
não tenhas medo, é só um sonho. não há vampiros fora do quarto. na verdade, não há vampiros. acorda, vê se acordas, que isto é só um sonho. mas acorda, por favor, que mais do que um sonho mau, é dos que te fazem mal. não deixes que continue, pára com isso, acorda.
não tenhas medo, nunca o teu quarto esteve cheio de cobras. nem alguma vez estará.
não acredites, é um sonho. não é culpa tua, o sonho. que disparate, não chupaste o teu pai contra a sua vontade. pára de chorar. vais acordar com os olhos inchados. todos vão pensar que levaste a noite a chorar e ninguém vai acreditar que dormias. vamos, acorda, põe mão nisto.
não tenhas medo, não há um leão à socapa na noite, sobre o teu corpo. digo-to eu, será seguro e calmo se acordares. será brando e terno.
acorda. sabes que te receberá com um abraço todo braços e todo beijos. que te apertará junto a si e te dirá que já vai passar que não tenhas medo que já vai passar. sabes que só não te dá o que não pode, que o erro é teu, por quereres mais. sabes que é em sacrifício que se dá. sabes que não estarás mais só do que ontem, nem mais triste. só o cansaço será mais pesado, porque te permites estes sonhos, por isso importa que acordes.
um dia vais enlouquecer no sono, depois não sei como será. talvez não muito diferente, afinal. imagino que aí sim, um leão, velho. aí sim, o medo constante, e os resíduos de culpas e vergonhas de coisas que não sabes se sonhaste. não reconhecerás o abraço e a garganta vai estar presa de uma vontade mal engolida de correr o mundo. imagino que à procura. imagino que a fugir.