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sexta-feira, fevereiro 20, 2004

Alentejo Revisitado*


                        a meu avô Francisco

I

Do rosto que olha   o Alentejo é o corpo
mas não somente o corpo   a árvore
figueira junto ao mar    um pássaro
perto do coração

Trigo que escutamos e que vemos
antes de ser   o pão

A mão que desvenda
o sítio exacto da alma
vegetal   animal   e mineral
em todos os caminhos

Para sempre
um país sob a luz    menino imemorial


I I

Durante tanto tempo foste
o companheiro das coisas vivas

Terás de encher  agora  os teus bosques ardentes
de neblina e silencio  e animais sem condição

E deverás olhar as coisas mortas
como se todas as manhãs elas partissem

Tudo o que tens e que tiveste outrora
a paz que em vão buscaste    tantos anos
nesse lugar fecundo   ficará

Quanto oceano quanta sede quanta voz
na escuridão das searas que amanhecem

Alentejo   um pão cortado
na sombra dos candeeiros dentro das casas desertas.

   in “Nigredo/Albedo – o livro das translações”

enviado por Nicolau Saião

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