terça-feira, março 02, 2004
Alexandra Lucas Coelho, Antena 2*
Sim, hoje, o entardecer foi com Ruy Belo. As palavras ditas, porque a sua poesia só assim faz sentido. Os encontros perdidos mesmo antes de encontrados. A infância a seguir à morte, na margem da alegria.
Um dia não muito longe, não muito perto.
Às vezes sabes sinto-me farto
por tudo isto ser sempre assim
Um dia não muito longe não muito perto
um dia muito normal um dia quotidiano
um dia não é que eu pareça lá muito hirto
entrarás no quarto e chamarás por mim
e digo-te já que tenho pena de não responder
de não sair do meu ar vagamente absorto
farei um esforço parece mas nada a fazer
hás-de dizer que pareço morto
que disparate dizias tu que houve um surto
não sabes de quê não muito perto
e eu sem nada pra te dizer
um pouco farto não muito hirto e gagamente absorto
não muito perto desse tal surto
queres tu ver que hei-de estar morto?
Ruy Belo, Todos os Poemas,
CL: 2000.
Sim, hoje, o entardecer foi com Ruy Belo. As palavras ditas, porque a sua poesia só assim faz sentido. Os encontros perdidos mesmo antes de encontrados. A infância a seguir à morte, na margem da alegria.
Um dia não muito longe, não muito perto.
Às vezes sabes sinto-me farto
por tudo isto ser sempre assim
Um dia não muito longe não muito perto
um dia muito normal um dia quotidiano
um dia não é que eu pareça lá muito hirto
entrarás no quarto e chamarás por mim
e digo-te já que tenho pena de não responder
de não sair do meu ar vagamente absorto
farei um esforço parece mas nada a fazer
hás-de dizer que pareço morto
que disparate dizias tu que houve um surto
não sabes de quê não muito perto
e eu sem nada pra te dizer
um pouco farto não muito hirto e gagamente absorto
não muito perto desse tal surto
queres tu ver que hei-de estar morto?
Ruy Belo, Todos os Poemas,
CL: 2000.