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quinta-feira, março 25, 2004

alter eros #4


Carlos Martins


Ela corria pela ravina
quand’eu lhe gritei:
desce, amor, sou eu.

Ela me perguntou:
o que me trazes,
o que me ofereces?

Trago no meu corpo
o perfume da terra áspera,
o cheiro da terra
na primeira neblina,
para ti eu trago.

Nos meus olhos,
o fruto amanhecente
numa aurora de ouro,
às tuas narinas,
eu trago o fruto.

Trago também, só para ti eu trago
o furor da tempestade,
o tremor do vento do deserto,
que de dia é quente,
que de noite é frio,
e aos teus cabelos não negarei
o arrepio
nem o mergulho,
não negarei...

E na ponta dos meus dedos
um dedilhar suave,
uns tons de sol,
uns tons de lua:
esquadrinharei todo o teu rosto,
pétala a pétala,
numa manhã de rosa.

— Agora vem! Desce, amor!

Foi quand’ela saltou,
desequilibrou-se, nem sei,
do despenhadeiro abaixo,
e suavemente, pela cintura,
nos pousámos
nas touceiras azuis
dos manjericões de cheiro.

Soares Feitosa*

Salvador, Baía, noite leve, 31.10.1995


* Escritor brasileiro (1944 – Ipu, Ceará), também editor e jornalista. Foi o criador e é o director do Jornal de Poesia, uma das mais importantes publicações interactivas da América do Sul. Autor da colectânea “Psi, a penúltima”. “Divide hoje residência entre as três grandes capitais nordestinas” (sic).

enviado por Nicolau Saião

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