segunda-feira, março 29, 2004
Amanhã*
Amanhã, passaremos despercebidos. Ficarás ainda mais absorto ao balcão, prolongarás um sorriso como se dobra uma folha de papel e antes que os utentes desconfiem levarás a mão ao coração como se ali não existissem néons. O iPod resulta na perfeição. Eu pararei o carro no sítio do costume, entre a urze e o cheiro dos pinheiros, e fecharei os olhos desta vez como nunca fazem os poetas (porque a meteorologia não me promete um sol branco para o entardecer). Amanhã, passaremos despercebidos. Dizes tu ao serviço de uma emoção sem nome.
***
[...]
Retiro o braço de sob a cabeça adormecida,
entorpecido, crivado de alfinetes repontantes.
Na cabeça de cada um, à espera que os contem,
vieram-se sentar os anjos derrubados. --
Wislawa Szymborska, Paisagem com Grão de Areia,
Relógio d'Água, 1998, Trad. de Júlio Sousa Gomes.
Amanhã, passaremos despercebidos. Ficarás ainda mais absorto ao balcão, prolongarás um sorriso como se dobra uma folha de papel e antes que os utentes desconfiem levarás a mão ao coração como se ali não existissem néons. O iPod resulta na perfeição. Eu pararei o carro no sítio do costume, entre a urze e o cheiro dos pinheiros, e fecharei os olhos desta vez como nunca fazem os poetas (porque a meteorologia não me promete um sol branco para o entardecer). Amanhã, passaremos despercebidos. Dizes tu ao serviço de uma emoção sem nome.
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[...]
Retiro o braço de sob a cabeça adormecida,
entorpecido, crivado de alfinetes repontantes.
Na cabeça de cada um, à espera que os contem,
vieram-se sentar os anjos derrubados. --
Wislawa Szymborska, Paisagem com Grão de Areia,
Relógio d'Água, 1998, Trad. de Júlio Sousa Gomes.