sábado, abril 10, 2004
Abril #10*
Cartaz 25 de Abril, Editor: PCP, 1984
Quis reconstruir a casa onde cresciam ervas e musgos
Lisboa, para Salgueiro Maia
quis reconstruir a casa onde cresciam ervas e musgos.
sem alma, a escuridão dissolve o mundo. a imagem
arde na memória.
quis reconstruir a casa. a pele rebenta nesse corpo
onde o plasma descobre caminhos que desconheço.
nada guardo que possa recordar.
que frase escreverei no braço direito?
conheço apenas o sangue, legenda
com que vou decifrando
a floresta e o oceano.
a imagem arde. na memória. circula por entre os dedos.
o líquido caiu sobre a rocha. adormeceu para esquecer
o sonho e o pesadelo.
permanece. a fonte.
sobrevoa a cidade. rasga esta página.
devorando a alma. lavando
as unhas e o cabelo.
o livro destruiu há muito a única imagem sobrevivente.
guardo junto do poço esse segredo
há tanto tempo sem água.
pouco restou. apenas cor. e cor distante.
aparência de cor e de textura. aparência de sangue.
este corpo revolta-se. a imagem arde.
tenta salvaguardar os glóbulos e as plaquetas.
sem alma, a escuridão dissolve o mundo.
sem veias, o sangue permanece.
noutro largo.
noutro coração.
Ruy Ventura in Na Liberdade,
antologia a lançar durante as comemorações do 25 de Abril
com a chancela de “Garça Editores” (Peso da Régua)
Enviado por Nicolau Saião
Cartaz 25 de Abril, Editor: PCP, 1984
Quis reconstruir a casa onde cresciam ervas e musgos
Lisboa, para Salgueiro Maia
quis reconstruir a casa onde cresciam ervas e musgos.
sem alma, a escuridão dissolve o mundo. a imagem
arde na memória.
quis reconstruir a casa. a pele rebenta nesse corpo
onde o plasma descobre caminhos que desconheço.
nada guardo que possa recordar.
que frase escreverei no braço direito?
conheço apenas o sangue, legenda
com que vou decifrando
a floresta e o oceano.
a imagem arde. na memória. circula por entre os dedos.
o líquido caiu sobre a rocha. adormeceu para esquecer
o sonho e o pesadelo.
permanece. a fonte.
sobrevoa a cidade. rasga esta página.
devorando a alma. lavando
as unhas e o cabelo.
o livro destruiu há muito a única imagem sobrevivente.
guardo junto do poço esse segredo
há tanto tempo sem água.
pouco restou. apenas cor. e cor distante.
aparência de cor e de textura. aparência de sangue.
este corpo revolta-se. a imagem arde.
tenta salvaguardar os glóbulos e as plaquetas.
sem alma, a escuridão dissolve o mundo.
sem veias, o sangue permanece.
noutro largo.
noutro coração.
Ruy Ventura in Na Liberdade,
antologia a lançar durante as comemorações do 25 de Abril
com a chancela de “Garça Editores” (Peso da Régua)
Enviado por Nicolau Saião