terça-feira, abril 13, 2004
Abril #13*
Cartaz 25 de Abril, Editor: A25A, 1985
Para que tu, Liberdade
Cresci a sonhar contigo, tu sabes,
com a pressa ansiosa dos amantes,
todos os dias, sem descanso ou desalento,
imaginando a claridade do teu olhar sereno,
o rumor secreto da tua voz marinha,
o embalo de onda do teu sono de menina.
Um dia tu chegaste e ergueste a tua casa
na mansa vizinhança dos meus sonhos,
paredes meias com o esplendor do cravos.
Partilhei contigo o alpendre das estrelas
onde os meus filhos brincaram e cresceram,
onde eu brinquei também com os búzios e as sombras
e te prometi fidelidade eterna,
imitando as juras das paixões mais ardentes.
Ambos envelhecemos desde então,
dorso arqueado pelo peso ingrato
do mais amargo desencanto,
sem nunca renunciarmos à felicidade
que um dia prometemos um ao outro.
Fomos nós que envelhecemos
ou foi a alegria que se exilou do nosso olhar?
Foi Abril que perdeu o fulgor primordial
ou fomos nós que deixámos de o merecer,
luz fugidia a escapar por entre os dedos?
Amanhã acordarás numa cama de pétalas,
com a tristeza mitigada pela música dos pássaros,
e eu estarei a teu lado, como quem renasce,
para que tu, Liberdade, caso de amor da minha vida,
nunca morras de abandono nos meus sonhos.
José Jorge Letria in Na Liberdade,
antologia a lançar durante as comemorações do 25 de Abril
com a chancela de “Garça Editores” (Peso da Régua)
Enviado por Nicolau Saião
Cartaz 25 de Abril, Editor: A25A, 1985
Para que tu, Liberdade
Cresci a sonhar contigo, tu sabes,
com a pressa ansiosa dos amantes,
todos os dias, sem descanso ou desalento,
imaginando a claridade do teu olhar sereno,
o rumor secreto da tua voz marinha,
o embalo de onda do teu sono de menina.
Um dia tu chegaste e ergueste a tua casa
na mansa vizinhança dos meus sonhos,
paredes meias com o esplendor do cravos.
Partilhei contigo o alpendre das estrelas
onde os meus filhos brincaram e cresceram,
onde eu brinquei também com os búzios e as sombras
e te prometi fidelidade eterna,
imitando as juras das paixões mais ardentes.
Ambos envelhecemos desde então,
dorso arqueado pelo peso ingrato
do mais amargo desencanto,
sem nunca renunciarmos à felicidade
que um dia prometemos um ao outro.
Fomos nós que envelhecemos
ou foi a alegria que se exilou do nosso olhar?
Foi Abril que perdeu o fulgor primordial
ou fomos nós que deixámos de o merecer,
luz fugidia a escapar por entre os dedos?
Amanhã acordarás numa cama de pétalas,
com a tristeza mitigada pela música dos pássaros,
e eu estarei a teu lado, como quem renasce,
para que tu, Liberdade, caso de amor da minha vida,
nunca morras de abandono nos meus sonhos.
José Jorge Letria in Na Liberdade,
antologia a lançar durante as comemorações do 25 de Abril
com a chancela de “Garça Editores” (Peso da Régua)
Enviado por Nicolau Saião