<$BlogRSDUrl$>

segunda-feira, abril 19, 2004

Abril #19*

Atreve-te a julgar. Julga os outros julgando a ti mesmo.
A natureza das coisas é a tua natureza. Respira-te, despe-te,
faz amor com as tuas convicções, não te limites a sorrir
quando não sabes mais o que dizer. Os teus dentes
estão lavados, as tuas mãos são amáveis mas falta-te
decisão nos passos e firmeza nos gestos.
Procura-te. Procura encontrar-te antes que te agarre a voracidade do tempo.
Faz as coisas com paixão. Uma paixão irrequieta que não te dê descanso
e te faça doer a respiração. Aspira o ar, bebe-o com força, é teu, nem um cêntimo pagarás por ele.
Quanto deves é à vida, o que deves é a ti mesmo. Canta.
Canta a água e a montana e o pescoço do rio,
e o beijo que deste e o beijo que darás, canta
o trabalho doce da abelha e a paciência com que crescem as árvores,
canta cada momento que partilhas com amigos, e cada amigo
como um astro que desponta no firmamento breve do teu corpo.
E canta o amor. E canta tudo o que tiveres razão para cantar.
E o que não souberes e o que não entenderes, canta.
Não fujas da alegria. A própria dor ajuda-te a medir
a felicidade. Carrega nos teus ombros os séculos passados e os séculos vindouros,
muito do pó que sacodes já foi vida, talvez beleza, orgulho, pedaços de prazer.
A estrela que contemplas talvez já não exista, quem sabe,
o que te ajudou a ser vida de quantas vidas precisou. Canta!
Se sentires medo, canta. Mas se em ti nou couber a alegria, não pares de cantar.
Canta. Canta. Canta. Canta. Canta. Constrói o teu amor, vive o teu amor,
ama o teu amor. De tudo o que as pessoas querem, o que mais querem é o amor.
Sem ele, nada nunca foi ugual, nada é igual, nada será igual alguma vez.
Canta. Enquanto esperas, canta.
Canta quando não quiseres esperar.
Canta se não encontrares mais esperança. E canta quando a esperança te encontrar.
Canta porque te apetece cantar e porque gostas de cantar e porque sentes que é preciso cantar.
E canta quando já não for preciso. Canta porque és livre.
E canta se te falta a liberdade


Joaquim Pessoa, Vou-me embora de mim, Hugin, 2000.

__________________
Ainda conservo o post it: "Lê este em especial".



também em Na Liberdade,
antologia a lançar durante as comemorações do 25 de Abril
com a chancela de “Garça Editores” (Peso da Régua)

This page is powered by Blogger. Isn't yours?