domingo, abril 25, 2004
Abril #25*
Nada recordo do 25 de Abril. Sou uma das meninas da geração dos cravos, tinha dois anos e meio quando os capitães saíram dos quartéis, depois das canções. Cresci numa casa pouco politizada, mas houve sempre algumas coisas que me foram passadas. O meu pai foi rádiotelegrafista em Angola, a minha mãe diz que a revolução foi um dia de medo mas muito bonito e há um primo meu, que vive em Lisboa, que aparece em cima de uma das árvores do largo do Quartel do Carmo, nas fotografias da época. Não vivi este medo, nem aquela alegria. Não vivi RGA's, nem mãos dadas a cantar Abril. Não vivi discussões sobre a esquerda ou a direita, nem sequer os nomes do MFA. Dizem-me que no Norte era outro o espírito. No entanto, à medida que os anos foram passando, eu aprendi muitas coisas sobre o 25 de Abril. Tirei um curso de História e fui ensinar coisas sobre o 25 de Abril. Aprendi a ouvir as mulheres mais velhas que me rodeiam a falar da sua juventude e dos seus amores e a perguntar-lhes os nomes das flores. Na semana que passou, pedi aos meus alunos que distribuissem cravos pela escola, em nome da revolução. Algures por aqui está o Abril que não vivi e que sei ser também a minha revolução.
Nada recordo do 25 de Abril. Sou uma das meninas da geração dos cravos, tinha dois anos e meio quando os capitães saíram dos quartéis, depois das canções. Cresci numa casa pouco politizada, mas houve sempre algumas coisas que me foram passadas. O meu pai foi rádiotelegrafista em Angola, a minha mãe diz que a revolução foi um dia de medo mas muito bonito e há um primo meu, que vive em Lisboa, que aparece em cima de uma das árvores do largo do Quartel do Carmo, nas fotografias da época. Não vivi este medo, nem aquela alegria. Não vivi RGA's, nem mãos dadas a cantar Abril. Não vivi discussões sobre a esquerda ou a direita, nem sequer os nomes do MFA. Dizem-me que no Norte era outro o espírito. No entanto, à medida que os anos foram passando, eu aprendi muitas coisas sobre o 25 de Abril. Tirei um curso de História e fui ensinar coisas sobre o 25 de Abril. Aprendi a ouvir as mulheres mais velhas que me rodeiam a falar da sua juventude e dos seus amores e a perguntar-lhes os nomes das flores. Na semana que passou, pedi aos meus alunos que distribuissem cravos pela escola, em nome da revolução. Algures por aqui está o Abril que não vivi e que sei ser também a minha revolução.