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quarta-feira, abril 07, 2004

memorabilia*

Primeiro foi O Principezinho, o filme, só depois cheguei ao livro. Um dia uma menina deu-me a descobrir a Terra dos Homens e voltei a Saint-Exupéry. E foi um novo fôlego.
Hoje há novidades. Tropecei na notícia há pouco, numa pausa para chocolate. Parece que encontraram os destroços do avião. Se calhar era bom quando não sabiamos onde estavam, mas eu sempre encontro um estranho (talvez disfuncional) conforto no reencontro com os objectos perdidos .
No meio das recordações fui encontrar um poema a propósito:



Um avião plana sobre o deserto, as dunas dançam,
o vento deambula. Pressinto na cor melancólica dos teus olhos
que aproximas o tempo da poesia da linguagem clara e doce
do inacessível, como se reconhecesses nos contornos acesos do
silêncio, a elementar respiração de todas as palavras.

É sempre por esta altura, que se quebram as tuas asas sobre
a presença atenta e consciente do deserto e, sempre como quem
responde, obliquamente, reinventas o princípio da imobilidade,
rente ao sereno movimento do anoitecer.


..........................

Depois, fico só. Eu e o deserto, entre a areia e as estrelas,
entre dois infinitos, num crescendo de silêncio, no começo
da respiração.


E, no entanto... Solidão cheia de água. No centro da noite silenciosa,
o rumor das fontes, a nudez dos sonhos - de mansinho,
como a inocente ondulação dos campos de trigo da minha infância,
como a planície amarela de girassóis, entardecendo,
como o frágil regresso das andorinhas.

.......

E no teu «silêncio feito de mil silêncios», de olhos fechados
sob a terna inscrição da areia e das estrelas
em mim, reencontrar a simplicidade poética,
amorosa,
do mundo

em mim.


Sandra Costa

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