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quinta-feira, abril 15, 2004

A quatro tempos*

1.

Escrevo este tempo com passos cobertos de sombras, por uma rua estreita e muros almejados de silêncio, onde o mundo não ergue as linhas que delimitam as margens inundadas, as árvores maduras ou a dança nocturna dos peixes celestes e sob os meus pés desfilam as primeiras ânforas que depois do sol ficaram guardadas para sempre.

A meio do caminho, o homem descansou. Nem ele sabia o que ainda lhe faltava percorrer nem era um pequeno deus a contemplar o vinho derramado mas, com o que lhe sobrava da sede, traçou sobre o pó da terra um fio que logo ali dividiu o que fora feito e o que havia ainda a fazer. Incluiu-se no lado esquerdo daquele mundo porque habituado a olhar para o Norte sempre gostara de ver a luz desaparecer no horizonte para dar lugar à textura invariável das coisas: a parede azul da casa a dar lugar ao desejo contido para além da rugosidade da pedra, naquela mulher existente antes de todas as ombreiras das portas.

– Contudo, sobre o pó da terra continuarão a passar os escorpiões e no rasto dos livros que todos os poetas não escreveram a morte será sempre mais bela, ainda que infalível, e virá um pássaro de muito longe abeirar-se da loucura e das agulhas dos pinheiros.


[continua]

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