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segunda-feira, abril 19, 2004

A quatro tempos*

2.

Com rigor, não ouso este outro lugar sem o desequilíbrio dos telhados pensado o primeiro raio de sol ou sem a inocência perdida das fontes se levo a água ao rosto ainda os olhos na solidão. Sob as nuvens que tremem do lado do avesso aguardo a passagem do sul, as omoplatas nuas fincadas na espera.

Por perto, havia cerejeiras em flor e um cartaz sobre um cão perdido. O homem juntou estas duas circunstâncias e murmurou uma oração desconhecida: haveria de chegar a uma paisagem onde uma sombra fosse uma sombra e a luz distante só a luz distante, nem um grito a mais dentro ou para além da escuridão. Mas, sem dar conta que se aproximara, já a figura dela alterava o sentido das coisas ditas como num poema e o que ainda agora se assemelhava a um desígnio depressa voltou a ser proferido como um regresso.

– Saberei recusar o silêncio quando for meu o ofício de alcançar as margens? Já perdi o medo de nomear as pequenas imobilidades que me ligam ao mundo mas será sempre com espanto que detecto a queda dos frutos sobre a terra, como se no princípio não houvesse verbo. No entanto, comove-me o que é atributo de uma só estação, apodreçam as cores com o frio, e isso aproxima-me de um sol já esquecido.


[continua]

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