SOZINHO governei
Sozinho ocupei
Sozinho enfunei
Por cima dos campos
Alimentei de ouro as flores
Bombardeei o deserto
Disse: a facada não há-de ser
E disse: a injustiça não há-de ser
A mão dura dos sismos
A mão dos inimigos
Enfureceram destruíram
Uma e duas
Fui traído e fiquei
Fui tomado e invadido
A mensagem que ergui
Sozinho exasperei
Sozinho mordi
Sozinho parti
Viagem pelos ares
Tinha em meu poder a Nemésis
Pra seguir com a poeria
Disse: só hei-de combater
E disse: só com o Imaculado
Contra o teimar dos sismos
Contra o dos inimigos
Resisti aguentei-me
Uma e duas
Fundeei as minhas casas
Fui e coroei-me
O trigo que anunciei
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a minha tristeza
o abandonado Maio
os ares fragantes
entre os alcíones
verdejei as colinas
de vermelho!
mais funda do que o grito
mais preciosa do que o sangue!
a mão dura das fomes
a mão dos meus amigos
demoliram devastaram
e três vezes
no campo sozinho
como um forte sozinho
sustentei-a sozinho!
a morte
com dentes de pedra o Tempo
para a distante
como a trombeta!
o aço e a desonra
e as armas
a espada da água fria
do espírito hei-de atacar!
contra o teimar das fomes
contra o dos meus amigos
animei-me fortaleci-me
e três vezes
na memória sozinho
com o halo sozinho
colhi-o eu sozinho!
Odysséas Elytis, Louvada Seja (Áxion Estí),
Assírio & Alvim, 2004, Trad. de Manuel Resende.