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sexta-feira, abril 16, 2004

Áxion Estí*





SOZINHO governei
Sozinho ocupei
Sozinho enfunei
Por cima dos campos
Alimentei de ouro as flores
Bombardeei o deserto
Disse: a facada não há-de ser
E disse: a injustiça não há-de ser
A mão dura dos sismos
A mão dos inimigos
Enfureceram destruíram
Uma e duas
Fui traído e fiquei
Fui tomado e invadido
A mensagem que ergui

Sozinho exasperei
Sozinho mordi
Sozinho parti
Viagem pelos ares
Tinha em meu poder a Nemésis
Pra seguir com a poeria
Disse: só hei-de combater
E disse: só com o Imaculado
Contra o teimar dos sismos
Contra o dos inimigos
Resisti aguentei-me
Uma e duas
Fundeei as minhas casas
Fui e coroei-me
O trigo que anunciei


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 a minha tristeza
 o abandonado Maio
 os ares fragantes
 entre os alcíones
 verdejei as colinas
 de vermelho!
 mais funda do que o grito
 mais preciosa do que o sangue!
 a mão dura das fomes
 a mão dos meus amigos
 demoliram devastaram
 e três vezes
 no campo sozinho
 como um forte sozinho
 sustentei-a sozinho!

 a morte
 com dentes de pedra o Tempo
 para a distante
 como a trombeta!
 o aço e a desonra
 e as armas
 a espada da água fria
 do espírito hei-de atacar!
 contra o teimar das fomes
 contra o dos meus amigos
 animei-me fortaleci-me
 e três vezes
 na memória sozinho
 com o halo sozinho
 colhi-o eu sozinho!


Odysséas Elytis, Louvada Seja (Áxion Estí),
Assírio & Alvim, 2004, Trad. de Manuel Resende.

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