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domingo, maio 02, 2004

Blush*



Nunca mais voltarei a acordar...
(numa cama gigante de um quarto de hotel
com vista para a lagoa de Veneza...
ficar à janela...
esticar os braços...
para a água).

Nunca escreverei um livro.
Aprender a tocar piano.

Levar um touro à exaustão numa arena
com o movimento das minhas ancas
sob uma chuva de rosas..
Atravessar Paris, nu, num descapotável.
Pôr uma bandeira no cimo dos Himalaias.
Provocar uma avalanche.

Serrar um corpo em seis bocados
Começando pela perna direita.

Pôr uma rodela de limão na minha língua
E sentir a saliva a crescer.

Nunca mais casar.
O cheiro de um bebé.
A doçura de uma framboesa.
De um lóbulo de orelha.
Da pele entre os dedos.
Da língua
de um perfeito desconhecido
num quarto de hotel
as costas contra a parede, bem alto


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Blush é um espectáculo intensamente físico, podia ler-se no programa e confirmou-se. Físico quase até à exaustão - dos sentidos, dos músculos, da voz, da sensibilidade, da perturbação, da luz que se tranforma em pêndulo, da nudez, do sexo, da provocação - are you a good fuck? O meu corpo quase sempre em tensão (não necessariamente com tesão). Acho que corei uma vez, ao primeiro contacto olho no olho com um dos bailarinos.

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