quarta-feira, maio 12, 2004
"Por detrás da noite"*
Hoje também eu existo. Sou um fumador de cigarros, um que bebe mais café do que seria sensato, que olha para a paisagem como se não estivesse aqui mas um pouco mais longe, num lugar desconhecido, um para quem o amor permanecerá a palavra indecifrável. Debaixo da sombra escura do cipestre sou um animal de camisa aos quadrados, um que esqueceu que só uma esperança nos permite renascer, que aceita relutantemente receber em si a vida que passa, que esqueceu a promessa que ela encerra e que, como tal, deve ser cumprida. Antes de saber é preciso acreditar. Hoje não tenho forças para tanto. Assim, também eu hoje existo, e os que me olham ferem-me julgando ver o que quer que seja. Um indivíduo parado debaixo da sombra de um cipestre, um cigarro apagado na mão, na expectativa de algo que não chega nunca.
Pedro Paixão, Quase gosto da vida que tenho, Quetzal, 2004
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foi este, afinal, o livro que comprei no convento visitado este domingo (importa notar que a livraria associada ao evento é a fonte das letras, abençoada gente). quanto ao pedro paixão, enfim, não lhe resisto à escrita, ao tom. porque me sei colada na carne uma profunda e inexpugnável tristeza, porque, vivendo contrafeita, arrasto os pés nos dias como quem deixa cair o braço, a mão que segura um cigarro apagado.
Hoje também eu existo. Sou um fumador de cigarros, um que bebe mais café do que seria sensato, que olha para a paisagem como se não estivesse aqui mas um pouco mais longe, num lugar desconhecido, um para quem o amor permanecerá a palavra indecifrável. Debaixo da sombra escura do cipestre sou um animal de camisa aos quadrados, um que esqueceu que só uma esperança nos permite renascer, que aceita relutantemente receber em si a vida que passa, que esqueceu a promessa que ela encerra e que, como tal, deve ser cumprida. Antes de saber é preciso acreditar. Hoje não tenho forças para tanto. Assim, também eu hoje existo, e os que me olham ferem-me julgando ver o que quer que seja. Um indivíduo parado debaixo da sombra de um cipestre, um cigarro apagado na mão, na expectativa de algo que não chega nunca.
Pedro Paixão, Quase gosto da vida que tenho, Quetzal, 2004
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foi este, afinal, o livro que comprei no convento visitado este domingo (importa notar que a livraria associada ao evento é a fonte das letras, abençoada gente). quanto ao pedro paixão, enfim, não lhe resisto à escrita, ao tom. porque me sei colada na carne uma profunda e inexpugnável tristeza, porque, vivendo contrafeita, arrasto os pés nos dias como quem deixa cair o braço, a mão que segura um cigarro apagado.