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domingo, dezembro 05, 2004

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(...)Preparem-se. Vêm aí as chuvas. Vocês vão sofrer, que se alimentam da luz e das cores fortes.


era verão e escrevias
........lá fora as árvores aguardam
........impacientes
........os dias da muita chuva
........como comboios que rasgam a terra
........em acusações de ser pouca

era verão e por essa altura
quase só sabias das coisas como o sol
a arder na carne e a pele
escudando-se em mais cor

sabias [ainda que muito vagamente]
que o frio te tomaria até aos
ossos [como se aí nascesse ou apenas como
se aí desaguasse] que curvarias como sempre
curvas sob a invernia
mas naquela tarde por ser verão
e ser tão seco e ser tão quente
– como são secas as mãos no fim da vida
como é quente o vidro do projector de halogéneo–
só por isso a ideia da chuva era a mais feliz
e o frio a coisa mais desejada
como se não pudessem ser demais
como se a chuva não acontecesse de nuvens
cinzentas como se as nuvens cinzentas não apagassem
os dias como se os dias sobrevivessem aos dedos
roxos

como se o inverno não fosse triste pelas ruas
de granito molhado
não fosse demorado pelos casacos cachecóis luvas
gorros que não detém todo o frio
não fosse uma mão cheia de recordações mutiladas
pelas rajadas violentas

cláudia caetano

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