quarta-feira, março 23, 2005
coisas desnecessárias, inúteis e patetas #4*
Observações
Janeiro diz-se magnólia porém, este ano, as magnólias abriram por Fevereiro dentro. As magnólias abrem e caem consoante a cor: primeiro as mais claras, no fim as mais escuras. Se não me limitasse a observar poderia construir uma teoria sobre a leveza. As magnólias brancas são tão frágeis quanto a claridade ou a solidão: sobre elas, os dias de sol foram pequenos incêndios. Se tivessem florido em Janeiro, as magnólias teriam caído todas sem que as suas folhas verdinhas aparecessem – mas Março está a terminar e as magnólias rosa-claro estão cheias de folhas e ainda em flor. As magnólias roxas abriram em Março e há uma que tem um ninho. O cheiro das magnólias é tão suave que temos sempre de nos erguer sobre as pontas dos pés para encontrarmos o desequilíbrio. Se não me limitasse a observar eu escrevia que gosto muito de magnólias. Como de coisas frágeis, coisas de partir, como de coisas efémeras mas que nos devolvem o hábito de acreditar. Na claridade ou na escuridão. Se não me limitasse a observar eu agora vinha pedir um poema novo de Tonino Guerra que nunca deve ter escrito sobre magnólias. Ter-se-á ele também limitado a observar? Na claridade ou na escuridão.
Sandra Costa
Observações
Janeiro diz-se magnólia porém, este ano, as magnólias abriram por Fevereiro dentro. As magnólias abrem e caem consoante a cor: primeiro as mais claras, no fim as mais escuras. Se não me limitasse a observar poderia construir uma teoria sobre a leveza. As magnólias brancas são tão frágeis quanto a claridade ou a solidão: sobre elas, os dias de sol foram pequenos incêndios. Se tivessem florido em Janeiro, as magnólias teriam caído todas sem que as suas folhas verdinhas aparecessem – mas Março está a terminar e as magnólias rosa-claro estão cheias de folhas e ainda em flor. As magnólias roxas abriram em Março e há uma que tem um ninho. O cheiro das magnólias é tão suave que temos sempre de nos erguer sobre as pontas dos pés para encontrarmos o desequilíbrio. Se não me limitasse a observar eu escrevia que gosto muito de magnólias. Como de coisas frágeis, coisas de partir, como de coisas efémeras mas que nos devolvem o hábito de acreditar. Na claridade ou na escuridão. Se não me limitasse a observar eu agora vinha pedir um poema novo de Tonino Guerra que nunca deve ter escrito sobre magnólias. Ter-se-á ele também limitado a observar? Na claridade ou na escuridão.
Sandra Costa