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sábado, dezembro 25, 2004

prenda de Natal para a Cristina*

zris

como se em flor os deuses
se abandonassem
e houvesse uma cor breve
no interior de cada palavra
que certos poetas usam
para segredar o mundo

e todavia se pressentisse a
eternidade
na disposição frágil
das sílabas e das pétalas


Sandra Costa

prenda de Natal para o Vítor*

urbanidade

ofereces-me o sorriso como se cedesses passagem
dás-me o braço para que não caia ainda que tanto
tropece
falas-me assim
com os modos de quem colhe flores para oferecer

limpo e delicado
cada silêncio


Cláudia Caetano

prenda de Natal para DR*

girândola

para que no céu se desenhe
um caos como este

de estrondos e luzes tantas

de estrelas caindo como neve
ou como se de repente
as atraísse a terra
como é gravitacional o coração


Cláudia Caetano

prenda de Natal para Ardente_Mente*

sentir

Aproximo o corpo da manhã
E nas folhas húmidas das árvores
Tornam-se visíveis os regressos.


Sandra Costa

prenda de Natal para a Ângela*

efemeridade

Pequena        posta sobre
um muro

um silencio de água
de vidro fosco
de risco de unha
de sopro nessa manhã
de amor

ou de viagem
voltando
sem ódio ou
mágoa
Apenas gesto
contra a luz

Apenas um dedo
correndo sobre a
pele
minuto
hora enorme

de caminho e
regresso
tão distante.

Afago nem sequer
esboçado
mas tão cheio.

E tão sem nada.


Nicolau Saião

prenda de Natal para hfm e Loba*

palavra

casulo
onde se faz
o mundo

        pressentem-se
        crisálidas
        no silêncio


Sandra Costa

prenda de Natal para a mola de roupa*

maravedi

fossem estas mãos ricas de misteriosos maravedis
como quem diz
        houvesse neste gesto a riqueza do mundo
        transportasse este corpo um tesouro escondido

são promessas inacabadas de
maravilhas
de mares e ilhas
são jeitos de contar moedas
e no meio dos trocos mesmo à conta para o café
surgir um rosto


Cláudia Caetano

prenda de Natal para auzzent*

vida

O chão despedaçado de folhas,
A melancolia das aves dentro da solidão,
O restolho dos dedos sobre o esquecimento,
A vertigem dos horizontes nos espelhos,
O coração silencioso da noite.


Sandra Costa

prenda de Natal para o Luís Reis*

alegria

RETÁBULO DA ALEGRIA (de Juan Solano)

Do lado esquerdo o tom é de azul escuro com
pequenas recorrências de negro sfumato e leves
pontos de branco de zinco: como pombos ou
cegonhas passando na noite     simplesmente
aflorando o seu primeiro sinal de céu ou
madrugada.

Depois, no centro, uma figura cerrando sua
dimensão seu único e secreto
perfil de traços marcados     os traços mais pesados
de vermelho sanguíneo     onde
o amarelo de espanha, o terra de siena se confrontam
com rasgões simulados de tinta desfeita.

Essa a alegria, o quadrado
de cartão ardente     acinzentado um pouco nas
pontas     a penumbra
que com as mãos se edificou e
freme     estremece e se une ao que criado foi     seu

transfigurado rosto para séculos e séculos de piedade.



Nicolau Saião

prenda de Natal para o Pedro*

beijo

os lábios sabem
de que boca virá o melhor beijo

– por essa boca agua a tua– tanto melhor que
se quer molhado– o beijo–
se já sabes que a vida a entregas
a cada
beijo dado


Cláudia Caetano

prenda de Natal para Uther*

estrela-do-mar

Como palavras que se perdem:
existissem substâncias ou espectros
que acumulam ausências e melancolias.


Sandra Costa

prenda de Natal para zef*

mansiternura

a voz vinha branda como o lume
onde a tempo se projecta a melhor comida

digo– a voz era um afago suave no rosto como coro
quando encostas ao meu se me segredas

em suma
eram lentas as sílabas demoradas no
afecto que mais que dizer roçavam


Cláudia Caetano

prenda de Natal para a galinhola*

arancia

(de súbito o mistério da sede
dentro das nuvens incendiadas)

começa em mim – no gesto
de arrancar o fruto da árvore –
a secreta essência do Inverno


Sandra Costa

sexta-feira, dezembro 24, 2004

o tempo dual*


Georgia O'Keeffe, Sky Above the Clouds, 1962-63

deseja-lhe apenas uma noite,
entre tantas outras noitas, muito feliz.


Cláudia, Nicolau e Sandra



p.s. - as prendas abrem-se depois da meia noite...
p.p.s. - e algumas podem ser abertas depois, não podem?

o invisível rumor que nos sustenta*











Apago as mãos com o regresso das noites silenciosas,
proponho esquecer-me do inverno e das palavras
que ainda sabem a crepúsculos de fogo e abro

um pão com aroma a mel e a misteriosas claridades.
Pela casa dissolvem-se as sombras nomeando outros
tantos mundos e as histórias repetem-se na boca

das crianças como as estações nas folhas das árvores.
Tudo se passa como sempre: os olhos escutando
o invisível rumor que nos sustenta.

Sandra Costa

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