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sábado, setembro 11, 2004

Próximo de Setembro #7*

Nasci para dizer Setembro
de muitas maneiras.

(digamos uma: para encostar
uma escada ao tempo das vindimas
e colher entre as uvas maduras
a expressão indefinida – mas
aromática – do que sou)

Sandra Costa

sexta-feira, setembro 10, 2004

pub despudorada (actualização #1)*

Nenhuma Flor. Oito imagens e o dizer dos lábios
, [Belgais e In-Libris, 2004] já pode ser encontrado em algumas livrarias:

Porto
Latina
Leitura
Poetria

Póvoa de Varzim
Livraria da Graça

Aveiro
Navio de Espelhos

Guimarães
Livraria Luís Pinto dos Santos


Entretanto, a In-Libris já tem à disposição informações sobre as tiragens especiais deste projecto editorial. A consultar aqui.


[post em permanente actualização]

quinta-feira, setembro 09, 2004

mola de roupa*

Atravessando os campos amarelos

Atravessando os campos amarelos, cardos
fustigam-me os joelhos. É doloroso não desmaiar!
As tulipas vermelhas perdem-me de vista;
a minha sombra caminha sem o voo do milhafre;
de agora em diante, só girassóis oram ao sol ...

MdR


inesperada poesia de inesperada mola de roupa. eu do assunto entendo apenas que há coisas que me encantam. depois há o problema da proximidade, não me fica bem dizer que é bom. é claro que dos amigos sempre damos boas referências, mas que diabos, não conheço ninguém que escreva como esta moça, digo, mola.

quarta-feira, setembro 08, 2004

ainda o Encontro do Vento 2004 #2*

(del libro del frío)

Hay un anciano ante una senda vacía. Nadie regresa
de la ciudad lejana; sólo el viento sobre las últimas
huellas.

Yo soy la senda y el anciano, soy la ciudad y el viento.

Antonio Gamoneda



serlo todo
la caída y el precipicio
el viento y el pájaro
el charco y la lluvia

serlo todo
desde hoy

Isabel Bono

in Vento/ Viento: Sombra de Vozes/ Sombra de Voces,
Salamanca, CM do Fundão e C.E.L.Y.A, 2004.

sete capítulos do mundo*



8.
fotografo
uma certeza.
apenas na memória.
o espaço e o alimento permanecem.
vestígios de um tempo.
o presente é, contudo, apenas uma fronteira.
desaparece.

12.
colava pequenos papéis em cadernos de há muito preenchidos.
as imagens, e um pouco da lama -
na descida do caminho.
inventava personagens guardadas no peito como numa carruagem.
sem destino.
tentava reproduzir a assinatura,
subindo e descendo até junto da oliveira.

45.
somos todos uma espécie de beiral,
recolhendo a água.
projectando-a de novo
para a terra.

Ruy Ventura, Sete capítulos do mundo: narrativa, Black Son Editores, 2003.

segunda-feira, setembro 06, 2004

Próximo de Setembro #6*

a luz dourada perto do tronco das árvores
vem antes da noite e das estrelas

assim como os silêncios que se propagam
podem ser as palavras que ficaram por dizer

ou o aroma maduro dos frutos é a hesitação
do sol que se quer ainda nos lábios

Sandra Costa

Aviso*

Recebo por mail (devido ao alerta do Público, suplemento Computadores) a notícia de que o Terravista decidiu encerrar as páginas pessoais alojadas no seu servidor, sendo 20 de Setembro a data limite de recuperação de ficheiros quer das páginas das praias, quer do serviço sete mares. Apesar da maior parte das pessoas que ali tinham alojadas as suas páginas já há muito terem emigrado para outros portais devido aos constantes problemas que o Terra dava, ainda diversas e excelentes páginas por lá existem. Eu própria ainda mantenho 'Outras Vozes' por lá. Façam lá o favor de se mudarem. É, no entanto, lamentável que este projecto pioneiro em Portugal (e através do qual dei os meus primeiros passos na web) se veja assim desapossado de quase todas as características que lhe deram forma. É a evolução.


domingo, setembro 05, 2004

ainda nenhuma flor*


Belgais, Abril de 2003 [foto, discretamente, roubada daqui]


Levando a música da chuva nos ouvidos (Tonino Guerra), chegámos a Belgais com o cheiro da terra ao entardecer. Sob aquele céu azul, este verde quase desapareceu e não foi o Outono que por ali se adiantou a dar conta da passagem do tempo. Não sei se importa muito o que é dos homens e que por lá ontem se passou - a música de Schubert, a exposição, o livro, tudo correu bem e a sopa da Cátia era deliciosa. Creio é no poder regenerador da natureza e que na próxima Primavera voltarão pequeninas flores a Belgais e que isso espantará o fulgor do medo. Talvez depois regressem as árvores.


ainda o Encontro do Vento 2004 #1*

O Vento

"O vento, diz um deles
e sorri"
in Flauta de Pan


No começo era o vento:
o vento da chuva, o vento do sol
o vento só vento ou não mais do que um sopro
na cara no corpo ou à esquina das casas

O vento das palavras e o vento que se lembra
ou que se esquece     e nos faz pensar
em manhãs de vento, do vento que vem
de noite e atormenta
e nos rouba de súbito
todas as memórias, todos os minutos.

Vento
das árvores e dos desejos
vento vulgar     vento da solidão
agora já só vento de vazios ou de presenças idas
vento duma ave que passa
vento duma voz que já não se ouve
vento que se ouve ao longe
vento dos anos   ventos nas mãos que se não tocam
vento de tudo o que morreu.

Vento que não existe
que nunca existirá
vento das folhas que ondeiam no ar
vento das folhas dos livros nunca escritos
vento que pára de repente e cresce em nossa volta
e nos ensina os pontos cardeais
e nos faz erguer o rosto e olhar o horizonte
vento de coisas ao vento     de momentos tão nossos
vento do mar na nossa cabeça inclinada.

Vento que sabe nascer nas florestas
nos desertos e nas ruelas
vento que sabe matar nas cidades
vento que corre em todo o tempo     em todo o mundo
vento que é só remorso
só um sinal

só o sinal que jamais tivemos
de vento que rola no nosso perfil desfeito.

Nicolau Saião


O Vento

o vento dissolve a pedra e a memória -
este braço sem cinza, sem sangue.
o vento escurece. os ombros e o cabelo.
essa voz e a inscrição do medo
sobre o lintel que sustenta o coração.

solene, o vento sangra este corpo -
até deixar apenas algumas folhas de ouro,
pedaços de madeira que a terra conservou.

(que tinta bebeste na sombra da serpente?)

a água corrói esse rosto, solve e coagula.
esquece os dedos e a raiz, o peso e o fogo.

a cinza fertiliza as vozes e o caminho.
ferida sem lugar, o vento tece
outra alma. dispersa sobre as águas
a seiva com que alimenta essa língua.

o vento alimenta a pedra e a memória.
ora. e labora. ora. e labora. ora e
labora - dissolvendo sobre os ombros
o peso e a sombra da poeira
que escreve esta rua, esta torre,

esta fonte que sacia o coração.

Ruy Ventura

in Vento/ Viento: Sombra de Vozes/ Sombra de Voces,
Salamanca, CM do Fundão e C.E.L.Y.A, 2004.

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