<$BlogRSDUrl$>

sábado, junho 21, 2003

antes de deitar*
Um agradecimento à Janela Indiscreta pelo acolhimento e ao Aviz pela simpatia.

Aos dois uma Paisagem significativa de Wallace Stevens:

III

Meço-me
Contra uma árvore alta.
Acho que sou muito mais alto,
Pois chego mesmo até ao sol,
Com os meus olhos;
E chego à praia do mar
Com os meus ouvidos.
Todavia não gosto
Do modo como as formigas rastejam
Para dentro e para fora da minha sombra.

Wallace Stevens, Ficção Suprema, Assírio & Alvim, 1991

quinta-feira, junho 19, 2003

dualidades mínimas #2

Um sol à beira da estrada
é o improvável elemento que permanece
sobre tudo o que não escrevo.


As árvores já inclinadas de sol
o degrau da casa à espera da noite

(in)quietas as palavras como girassóis


dualidades mínimas #1

tempo dual,
o do sol, que projecta
a sombra



Assim começou este blog, assim começa um dos lugares poéticos que tencionam crescer por aqui. Minimalmente, em jeito de haikais, em jeito de precisas impressões, que podem muito bem ser imperfeitas. Participa.
A entrada está ali ao lado.


musa*
Este espaço não tinha este nome. Era para se chamar um sol à beira da estrada, mas o template dava erro, transformava os acentos em adventos de surrealismo e, às tantas, a palavra dual veio-me à cabeça. Lembrei-me de Sophia. E não encontrei melhor forma de me definir. Evoco a Musa.


MUSA


Aqui me sentei quieta
Com as mãos sobre os joelhos
Quieta muda secreta
Passiva como os espelhos

Musa ensina-me o canto
Imanente e latente
Eu quero ouvir devagar
O teu súbito falar
Que me foge de repente

Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra Poética III, Editorial Caminho, 1999


quarta-feira, junho 18, 2003

surdina*
...............................................
Para que nem tudo vos seja sonegado,
cultivai a surdina.
Eu fico em surdina.
Em surdina aparo
os utensí­lios,
em surdina me preparo
para morrer.
Amo, chut!, em surdina:
a minha vida,
nesga entre dois ponteiros, fecha-se
em surdina.

Sebastião Alba, Uma Pedra ao lado da Evidência, Campo das Letras, 2000


Dual é todo este tempo em que agora habito. Um tempo de surdina, um dia chamei-lhe sombras, onde a poesia ainda pulsa, um dia chamaram-me sol.

Não sei o que vai resultar daqui. Se vai resultar qualquer coisa sequer. Ficará depois a surdina, de qualquer forma.


This page is powered by Blogger. Isn't yours?