sábado, outubro 15, 2005
terça-feira, outubro 11, 2005
#1
«Em Pavese o Verão é sempre o fim do Verão;
mesmo quando está calor, corre um certo vento. Imagino os seus homens (só os homens, as mulheres não, as mulheres nunca) com um casaco pelos ombros. Consigo até ver um arrepio a crescer nos braços; depois — é inevitável — forma-se uma espécie de nuvem nos olhos, aquilo a que chamamos melancolia.
Claro que isto não é nenhuma teoria literária são apenas os meus próprios erros de leitura.» [publicado por C. às 12:21 PM]
#2
«A melancolia não enquanto tristeza vaga, mas como algo violento e furioso que desintegra as ligações, rompendo com os mecanismos de identificação e todas as vias de comunicação.
Aquela que pode, mesmo assim, acabar por dar origem à criação. Uma espécie de princípio alquímico que empreende a dissolução da matéria para, às vezes, a reconstituir.» [posted by Alexandra | 11:22 PM]
#3
Tattoo
The light is like a spider.
It crawls over the water.
It crawls over the edges of the snow.
It crawls under your eyelids
And spreads its webs there--
Its two webs.
The webs of your eyes
Are fastened
To the flesh and bones of you
As to rafters or grass.
There are filaments of your eyes
On the surface of the water
And in the edges of the snow.
Wallace Stevens
Tatuagem
A luz é como uma aranha.
Move-se sobre a água.
Move-se sobre os contornos da neve.
Move-se sob as tuas pálpebras
E aí espalha as suas teias—
As suas duas teias.
As teias dos teus olhos
Estão presas
À tua carne e aos teus ossos
Como em traves ou na relva.
Há filamentos dos teus olhos
Na superfície da água
E nos contornos da neve.
tradução: sandra costa
domingo, outubro 09, 2005
Abecedário
Vá, não entres aí
Isso é um advérbio de modo
E embora te pareça um particípio passado
é um adjectivo e às vezes um presente.
Fica parado à saída: está a chover
Dentro dessa frase quem anda ao sol molha-se sempre
É um discurso ediomático e por isso
onde está o prenome é o substantivo.
Junta-te ao ponto e vírgula: custa menos
do que escrever com pontinhos nos is
quando as reticencias nos confundem
com exclamações ou verbos no futuro.
Os conjuntivos na oração nunca se entendem.
E por isso, dizem, é que os agás são mudos.
João Garção in Os versos do Zé Povão
enviado por Nicolau Saião.