sábado, junho 19, 2004
resposta endereçada a *
Henri Michaux:
às tantas, estou a ler um poema de Manoel de Barros;
às tantas, o poema chama-se "disfunção";
às tantas, leio que a disfunção resulta de os poetas terem um parafuso trocado, e não a menos e que é lírica, a disfunção;
às tantas, o poeta nomeia 7 sintomas dessa disfunção lírica e
às tantas, o sétimo é este e é uma resposta endereçada a Henri Michaux: Mania de comparecer aos próprios desencontros.
Henri Michaux:
às tantas, estou a ler um poema de Manoel de Barros;
às tantas, o poema chama-se "disfunção";
às tantas, leio que a disfunção resulta de os poetas terem um parafuso trocado, e não a menos e que é lírica, a disfunção;
às tantas, o poeta nomeia 7 sintomas dessa disfunção lírica e
às tantas, o sétimo é este e é uma resposta endereçada a Henri Michaux: Mania de comparecer aos próprios desencontros.
ontem,*
em surdina, o tempo fez um ano.
[E como continua a ser, hoje, a surdina
o modo exacto de por aqui estar ou não estar!]
em surdina, o tempo fez um ano.
[E como continua a ser, hoje, a surdina
o modo exacto de por aqui estar ou não estar!]
sexta-feira, junho 18, 2004
surdina*
...............................................
Para que nem tudo vos seja sonegado,
cultivai a surdina.
Eu fico em surdina.
Em surdina aparo
os utensílios,
em surdina me preparo
para morrer.
Amo, chut!, em surdina:
a minha vida,
nesga entre dois ponteiros, fecha-se
em surdina.
Sebastião Alba, Uma Pedra ao lado da Evidência,
Campo das Letras, 2000
[...]
Ficará depois a surdina, de qualquer forma.
...............................................
Para que nem tudo vos seja sonegado,
cultivai a surdina.
Eu fico em surdina.
Em surdina aparo
os utensílios,
em surdina me preparo
para morrer.
Amo, chut!, em surdina:
a minha vida,
nesga entre dois ponteiros, fecha-se
em surdina.
Sebastião Alba, Uma Pedra ao lado da Evidência,
Campo das Letras, 2000
[...]
Ficará depois a surdina, de qualquer forma.
Ao Francisco J. Viegas,*
pelo Aviz, com atraso:
Prefácio
Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) –
sem nome.
Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé.
Insetos errados de cor caíam no mar.
A voz se estendeu na direção da boca.
Caranguejos apertavam mangues.
Vendo que havia na terra
dependimentos demais
E tarefas muitas -
os homens começaram a roer unhas.
Ficou certo pois não
Que as moscas iriam iluminar
o silêncio das coisas anônimas.
Porém, vendo o Homem
que as moscas não davam conta de iluminar
o silêncio das coisas anônimas -
passaram essa tarefa para os poetas.
Manoel de Barros, Concerto a Céu Aberto para Solos de Ave,
Record, 1998.
pelo Aviz, com atraso:
Prefácio
Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) –
sem nome.
Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé.
Insetos errados de cor caíam no mar.
A voz se estendeu na direção da boca.
Caranguejos apertavam mangues.
Vendo que havia na terra
dependimentos demais
E tarefas muitas -
os homens começaram a roer unhas.
Ficou certo pois não
Que as moscas iriam iluminar
o silêncio das coisas anônimas.
Porém, vendo o Homem
que as moscas não davam conta de iluminar
o silêncio das coisas anônimas -
passaram essa tarefa para os poetas.
Manoel de Barros, Concerto a Céu Aberto para Solos de Ave,
Record, 1998.
tic tac tic tac*
dorme-se até à hora proibida, dorme-se para lá do permitido. ter que ir a algum lado é sempre consequência do já ter que lá estar. chego tarde. nunca estou onde me esperam. na verdade, raro sei onde me esperam.
dorme-se até à hora proibida, dorme-se para lá do permitido. ter que ir a algum lado é sempre consequência do já ter que lá estar. chego tarde. nunca estou onde me esperam. na verdade, raro sei onde me esperam.
quinta-feira, junho 17, 2004
imagias #23
Uranus's Moon Umbriel: A Mysterious Dark World
Photo Credit: NASA, Voyager 2
"Umbriel, a dusky, melancholy Sprite,
As ever sully'd the fair Face of Light"
Alexander Pope, The Rape of the Lock (Canto IV)
amansar a raiva
por meio do degredo
por meio da tontura centrípeta
e distante
ser um resto de luz
na sombra
por baixo da pele
não se sabe o quanto é escuro
ou quantos brilhos se escondem
cláudia caetano
Uranus's Moon Umbriel: A Mysterious Dark World
Photo Credit: NASA, Voyager 2
As ever sully'd the fair Face of Light"
Alexander Pope, The Rape of the Lock (Canto IV)
amansar a raiva
por meio do degredo
por meio da tontura centrípeta
e distante
ser um resto de luz
na sombra
por baixo da pele
não se sabe o quanto é escuro
ou quantos brilhos se escondem
cláudia caetano
terça-feira, junho 15, 2004
.º.º.º.º*
não quero filtros para o mundo
não quero filtros para o mundo
não quero filtros para o mundo
quero só um suave desfasamento alcalóide
e uma cama para os sonhos
cláudia caetano
(raios! voltei a apagar inadvertidamente um post... mais uma vez, não tenho backup copy. peço desculpa a quem comentou. tentei reconstruir o poema, suponho que era isto, ou algo muito semelhante. agora vou ali ao ladinho auto-flagelar-me. com licença.)
não quero filtros para o mundo
não quero filtros para o mundo
não quero filtros para o mundo
quero só um suave desfasamento alcalóide
e uma cama para os sonhos
cláudia caetano
(raios! voltei a apagar inadvertidamente um post... mais uma vez, não tenho backup copy. peço desculpa a quem comentou. tentei reconstruir o poema, suponho que era isto, ou algo muito semelhante. agora vou ali ao ladinho auto-flagelar-me. com licença.)
domingo, junho 13, 2004
dualidades mínimas #48
as veias doentes do sangue
que não sobe e as pernas
inchadas de calor
cláudia caetano
as veias doentes do sangue
que não sobe e as pernas
inchadas de calor
cláudia caetano