quinta-feira, janeiro 13, 2005
prenda de Natal para o António*
alga
seja o mar para onde olho–
de onde te espero
manso
para que eu entre com vagar
para que passeie ao longo da
costa
com a água a subir até aos joelhos
seja a alga que se enleia no
tornozelo um prenúncio dos
teus cabelos
ou que da que ali se enrosca e segura
possa fingir a tua vontade de me levar a ti
Cláudia Caetano
alga
seja o mar para onde olho–
de onde te espero
manso
para que eu entre com vagar
para que passeie ao longo da
costa
com a água a subir até aos joelhos
seja a alga que se enleia no
tornozelo um prenúncio dos
teus cabelos
ou que da que ali se enrosca e segura
possa fingir a tua vontade de me levar a ti
Cláudia Caetano
prenda de Natal para a Cláudia*
encanto
saber criar o tempo
certo para colocar o pé descalço
sobre um livro de poemas
saber dizer dos girassóis
e dos cata-ventos que só existem
para que se saiba qual a natureza
da linguagem
saber das lâmpadas acesas
dos telhados inclinados
das ruas desertas
e de um amor impossível
Sandra Costa
encanto
saber criar o tempo
certo para colocar o pé descalço
sobre um livro de poemas
saber dizer dos girassóis
e dos cata-ventos que só existem
para que se saiba qual a natureza
da linguagem
saber das lâmpadas acesas
dos telhados inclinados
das ruas desertas
e de um amor impossível
Sandra Costa
prenda de Natal para a wind*
branco
desembrulhar as mãos sobre a pele mais clara
entrar no dia pela luz nas casas crescidas de espaços
há um sonho branco que pode ser espuma
ou nuvem
há um vento frio que liberta a roupa dos estendais
e liberta lágrimas felizes quando te apanha de frente o rosto
lençóis à solta voando num dia de inverno
como aves tão confusas quanto esfuziantes
Cláudia Caetano
branco
desembrulhar as mãos sobre a pele mais clara
entrar no dia pela luz nas casas crescidas de espaços
há um sonho branco que pode ser espuma
ou nuvem
há um vento frio que liberta a roupa dos estendais
e liberta lágrimas felizes quando te apanha de frente o rosto
lençóis à solta voando num dia de inverno
como aves tão confusas quanto esfuziantes
Cláudia Caetano
prenda de Natal para andrés*
azahar
embrulhar-te em flores brancas
e assim ser possível o recolhimento
sobrar-me de espaços e de luz
e encontrar-te onde mais te quero
estás no perfume cítrico e fresco
do azahar quando amanhece
Cláudia Caetano
azahar
embrulhar-te em flores brancas
e assim ser possível o recolhimento
sobrar-me de espaços e de luz
e encontrar-te onde mais te quero
estás no perfume cítrico e fresco
do azahar quando amanhece
Cláudia Caetano
prenda de Natal para mim*
magnólia
Naquela terra não havia magnólias. À beira dos caminhos
Nos jardins e nos pequenos vasos de flores dentro das casas
As mulheres e os vendedores de flores cultivavam aspidistras
rosas-chá, malmequeres e pequenos bolbos de tulipas vermelhas.
Um namorado, certa vez, colocou na botoeira um girassol.
Meninas dos colégios assustavam-se e, correndo pelos parques
faziam esvoaçar contra a luz candente da tarde pequenas flores campestres.
Então, um dia, apareceu na cidade um hortelão
que num pequeno cesto tinha um pano multicolor
sobre algo que não se conhecia.
Uma jovem destacou-se de entre os demais e disse-lhe
qualquer coisa em voz sumida. E o hortelão
olhou-a longamente.
E depois principiou a andar devagarinho.
E na rua começou a espalhar-se uma penumbra que de repente
todos perceberam que iria doravante ficar ali para sempre.
Nicolau Saião
magnólia
Naquela terra não havia magnólias. À beira dos caminhos
Nos jardins e nos pequenos vasos de flores dentro das casas
As mulheres e os vendedores de flores cultivavam aspidistras
rosas-chá, malmequeres e pequenos bolbos de tulipas vermelhas.
Um namorado, certa vez, colocou na botoeira um girassol.
Meninas dos colégios assustavam-se e, correndo pelos parques
faziam esvoaçar contra a luz candente da tarde pequenas flores campestres.
Então, um dia, apareceu na cidade um hortelão
que num pequeno cesto tinha um pano multicolor
sobre algo que não se conhecia.
Uma jovem destacou-se de entre os demais e disse-lhe
qualquer coisa em voz sumida. E o hortelão
olhou-a longamente.
E depois principiou a andar devagarinho.
E na rua começou a espalhar-se uma penumbra que de repente
todos perceberam que iria doravante ficar ali para sempre.
Nicolau Saião
prenda de Natal para a Ana Pinto*
alentejo
ergue-se na lonjura
só uma árvore
um homem,
algures entre o
desassossego plano,
esquece uma nuvem
e que as palavras
apenas cobrem de sílabas
o silêncio
ergue-se na lonjura
uma árvore,
breve sombra,
e um grito entre a súplica
e a lucidez
Sandra Costa
alentejo
ergue-se na lonjura
só uma árvore
um homem,
algures entre o
desassossego plano,
esquece uma nuvem
e que as palavras
apenas cobrem de sílabas
o silêncio
ergue-se na lonjura
uma árvore,
breve sombra,
e um grito entre a súplica
e a lucidez
Sandra Costa
prenda de Natal para a Zazie*
narigueta
diziam que não era um nariz bonito
que aquilo nem era nariz
um outro nome era uma coisa tosca
quando muito uma narigueta
como se um nariz pudera ser quesito
para fazer de alguém feliz
não soubéssemos que quando se gosta
se ama com enlevo uma careta
e como poderia o amor cegar se
mais certo é o tanto que revela
– em cada contorno teu redefinida a beleza
Cláudia Caetano
narigueta
diziam que não era um nariz bonito
que aquilo nem era nariz
um outro nome era uma coisa tosca
quando muito uma narigueta
como se um nariz pudera ser quesito
para fazer de alguém feliz
não soubéssemos que quando se gosta
se ama com enlevo uma careta
e como poderia o amor cegar se
mais certo é o tanto que revela
– em cada contorno teu redefinida a beleza
Cláudia Caetano
domingo, janeiro 09, 2005
prenda de Natal para o Rui*
saudade
um dia
partiremos
simplesmente
e o céu
ficará azul
entre os
pássaros
Sandra Costa
saudade
um dia
partiremos
simplesmente
e o céu
ficará azul
entre os
pássaros
Sandra Costa