quinta-feira, setembro 30, 2004
A rocking chair on a porch, in The Village
Night has fallen
Mute and cold
My horse is crying
"Horse Tears", in Felt Mountain, Goldfrapp
quarta-feira, setembro 29, 2004
Pequeno recado: no dia seguinte à publicação das famigeradas listas de colocação de docentes, apesar da grande maioria (digo eu...) dos professores estarem (supostamente) bem colocados, não nos esquecemos nem dos erros, nem dos atrasos, nem da incompetência, nem da arrogância balofa, nem dos colegas (é importante apurar-se a quantidade de professores que continuam mal colocados ou por colocar devido a erros!) que ainda hoje vivem momentos de angústia. A culpa ou a responsabilidade não pode morrer solteira! (para isso, basto eu!...)
Madrigal em madrugada
[...]
[Se agora tu viesses
dar-me um beijo
com certeza adormecia
nos teus braços]
Ana Luísa Amaral, Coisas de Partir, Gótica, 2001.
terça-feira, setembro 28, 2004
ouviu-se, pela voz do poeta,
afinal o que importa é/ um navio de espelhos/ - you are welcome to elsinore - [...]
acompanhada
por
Scot Walker, Monteverdi, Beethoven,...
a propósito da re-edição pela Assírio & Alvim de
Jornal do Gato e Pena Capital.
segunda-feira, setembro 27, 2004
João Leitão, Porta (Bukhara—Uzbequistão, Jul/2004)
à noite o comprimido— seroxats adts xanaxs prozacs—
coisa semelhante ao pequenino que tomavas em
criança logo pela manhã
nos dias de visita de estudo— não nos vá a
criatura vomitar no autocarro— o fedor a gasóleo os nervos embrulhados no
pequeno-almoço—
o medo de ir
à noite para que no dia seguinte te levantes
e não vomites ou chores para que mimar mais um dia
não te traga ao estômago os nervos da partida e
toleres o fedor dos outros—
a solidão a compasso
à noite com um copo de água e os olhos fechados
para que os sonhos se misturem pesados e inócuos antes
da chegada dos monstros— antes chegavam logo
e acompanhavam-te ainda durante o intervalo para café—
das torturas nocturnas dos tremores da exaustão—
o escuro por dentro
à noite pela garganta abaixo como quem se engole—
é-se tanto que urge anular-se um pouco—
como quem se permite continuar
era uma porta muito azul e alguém disse
.....‘toda a liberdade para tudo quanto queiras
.....só não poderás ver o que está para lá da porta’
— querias acreditar que por trás um mar
um céu
a razão de ser azul tanto a não poder transpor
à noite para que se dissimule isso que te viu do outro lado
ou para que acredites que és livre de o não tomar— houvesse
um molde numa forja distante com o teu regresso em preparação
cláudia caetano
Alguns malefícios da autonomia
Não fiquei surpreendido quando, há poucos dias, no meio da confusão gerada pelo atraso na publicação das listas de colocação de professores, vi novo ser levantada a bandeira da “descentralização”. De facto, qualquer político que se preze coloca no seu discurso palavras como “autonomia”, “regionalização”, “descentralização”, etc.. Correspondendo muitas vezes a chavões que visam iludir os ouvintes ou mostrar engodo às clientelas partidárias, o facto é que estes termos têm tomado uma cada vez maior importância na linguagem política.
Mas, voltando aos concursos de professores, houve logo quem viesse à televisão apresentar o exemplo de uma escola minhota que, ao abrigo de um “contrato de autonomia”, pode escolher os seus próprios professores – estando por isto já a funcionar em pleno. Vários “especialistas” apresentaram-se a defender este modelo de recrutamento, porque assim, dizem, “o corpo docente é contratado em função das garantias de integração no projecto educativo da escola” e não a partir de critérios “meramente burocráticos” (referiam-se à média final do curso e ao tempo de serviço, frutos do trabalho dos professores como estudantes e como docentes). Apareceram ainda outros a defender que deveriam ser as autarquias locais a contratar os professores para as escolas dos seus concelhos, mas adiante...
Poderia já escrever aqui a frase que um dia ouvi a um velhote transmontano: “Muito bom latim canta o meu Joaquim...” Mas não. Prefiro recordar outros exemplos de autonomia na contratação do pessoal.
Começo pelas autarquias. Geralmente o recrutamento é feito com base no perfil curricular, numa prova e numa entrevista. Até aqui tudo bem (ou nem tanto, tendo em conta que os anúncios de emprego nem sempre são visíveis, a não ser para aqueles que irão usar o fato por medida). Mas há um pormenor: na ponderação dos elementos de avaliação, os gestores do município podem dar à entrevista o peso que entenderem. Os resultados, em muitas terras deste país, são conhecidos. Costumam traduzir-se na contratação dos amigos, dos filhos dos amigos ou de rapazes que trazem consigo um cartão partidário – mesmo que sejam incompetentes.
Passo agora para o Ensino Superior – cuja autonomia inclui a possibilidade de definição de regras para a admissão de professores. A decisão é normalmente colocada nos departamentos que, após avaliação curricular, escolhem o docente a contratar. Também na altura do despedimento (da “não renovação do contrato ou da requisição”, como diz o eufemismo) são os departamentos que decidem. Não sendo necessários critérios explícitos para estes passos... bem... o resultado adivinha-se. Há sempre a possibilidade de contratar uma antiga aluna, ainda que o currículo desta seja fraco, e deixar de fora um candidato “desconhecido” com provas dadas. Do mesmo modo, há sempre maneira de justificar (nem que seja com mentiras) a saída de um professor com mestrado e muitas publicações, deixando no seu lugar uma licenciada com currículo invisível.
Se não fiquei surpreendido com a ideia de colocar nas escolas ou nas autarquias a capacidade de contratarem os professores, confesso que fiquei preocupado, partindo de situações em que a “autonomia” é já uma (triste) realidade. Recordei, para além os exemplos apresentados, as antigas “autopropostas”. Um docente desempregado enviava para uma escola o seu currículo para eventual preenchimento de um horário disponível. Em tantos casos, não fosse ele conhecido do Conselho Directivo ou de alguém ligado à direcção, os documentos eram arquivados – pois inevitavelmente era escolhida uma pessoa “de confiança”, nem que para isso fosse preciso pôr uma educadora de infância a leccionar Educação Visual ou um licenciado em Francês a dar aulas de Físico-Química...
enviado por Ruy Ventura
Sam Javanrouh, [daily dose of imagery]
Les feuilles mortes se ramassent à la pelle,
Les souvenirs et les regrets aussi
Jacques Prévert
Somos folhas caídas.
Talvez o vento nos conceda uma dança,
ou a chuva nos beije a chorar.
Talvez o sol nos aqueça na cama,
ou alguém distraído, nos leve nas botas.
O Outono é bonito
simples
folhas mortas.
enviado por mariana