quinta-feira, fevereiro 03, 2005
por diversas razões*
apeteceu-me fazer os exercícios que se seguem.
Não levem muito a sério. De qualquer forma dedico o entardecer
que está ali do outro lado da janela a ela e a eles. Porque me apetece também.
Exercício #1
Anti-matéria
Do outro lado do espelho há um mundo ao contrário,
onde os loucos ficam sãos; onde os ossos se desenterram
e regressam ao primeiro lodo do amor.
E ao entardecer o sol apenas se levanta.
Os amantes choram porque estão um dia mais novos, e breve
a infância lhes rouba o seu prazer.
Num mundo assim há muita tristeza que, claro,
é alegria.
Russell Edson
Exercício #2
Uma pedra não é de ninguém
Um homem emboscou uma pedra. Apanhou-a. Fê-la prisioneira.
Pô-la num quarto escuro e ali permaneceu de guarda para
o resto da sua vida.
A mãe perguntou-lhe porquê.
Ele respondeu, porque a mantém cativa, porque está
capturada.
Olha, a pedra está adormecida, disse ela, não sabe
se está ou não está num jardim. A eternidade e a pedra
são mãe e filha; tu é que estás a envelhecer.
A pedra apenas está a dormir.
Mas eu apanhei-a, mãe, é minha por conquista, disse ele.
Uma pedra não é de ninguém, nem sequer de si própria. Tu é que
foste conquistado. Estás a vigiar o prisioneiro, que és tu próprio,
porque tens medo de sair, disse ela.
Sim, sim, tenho medo, porque nunca me amaste,
disse ele.
O que é verdade, porque sempre foste para mim o que
a pedra é para ti, disse ela.
Russell Edson
apeteceu-me fazer os exercícios que se seguem.
Não levem muito a sério. De qualquer forma dedico o entardecer
que está ali do outro lado da janela a ela e a eles. Porque me apetece também.
Exercício #1
Anti-matéria
Do outro lado do espelho há um mundo ao contrário,
onde os loucos ficam sãos; onde os ossos se desenterram
e regressam ao primeiro lodo do amor.
E ao entardecer o sol apenas se levanta.
Os amantes choram porque estão um dia mais novos, e breve
a infância lhes rouba o seu prazer.
Num mundo assim há muita tristeza que, claro,
é alegria.
Russell Edson
Exercício #2
Uma pedra não é de ninguém
Um homem emboscou uma pedra. Apanhou-a. Fê-la prisioneira.
Pô-la num quarto escuro e ali permaneceu de guarda para
o resto da sua vida.
A mãe perguntou-lhe porquê.
Ele respondeu, porque a mantém cativa, porque está
capturada.
Olha, a pedra está adormecida, disse ela, não sabe
se está ou não está num jardim. A eternidade e a pedra
são mãe e filha; tu é que estás a envelhecer.
A pedra apenas está a dormir.
Mas eu apanhei-a, mãe, é minha por conquista, disse ele.
Uma pedra não é de ninguém, nem sequer de si própria. Tu é que
foste conquistado. Estás a vigiar o prisioneiro, que és tu próprio,
porque tens medo de sair, disse ela.
Sim, sim, tenho medo, porque nunca me amaste,
disse ele.
O que é verdade, porque sempre foste para mim o que
a pedra é para ti, disse ela.
Russell Edson
quarta-feira, fevereiro 02, 2005
Está concluído*
o desafio de Natal. Mais uma vez pedimos desculpas pelas entregas tardias.
Esperamos, de qualquer forma, que tenham gostado.
Disponível «sorriso», prenda para Raquel.
o desafio de Natal. Mais uma vez pedimos desculpas pelas entregas tardias.
Esperamos, de qualquer forma, que tenham gostado.
Disponível «sorriso», prenda para Raquel.
terça-feira, fevereiro 01, 2005
Está quase.*
Disponível «galinhola», prenda para Charlotte,
«emovere», prenda para M e «miríade», prenda para Troti.
Disponível «galinhola», prenda para Charlotte,
«emovere», prenda para M e «miríade», prenda para Troti.
domingo, janeiro 30, 2005
sem que se recorra à linguagem*
[procuro] sobretudo os dias em que as
árvores se enchem de flores - quando
tudo acontece, até o medo, sem que se
recorra à linguagem
Sandra Costa
[procuro] sobretudo os dias em que as
árvores se enchem de flores - quando
tudo acontece, até o medo, sem que se
recorra à linguagem
Sandra Costa
deveria ter-me lembrado de Maus de Art Spiegelman*
começos ou talvez não*
He dado el salto de mí al alba.
He dejado mi cuerpo junto a la luz
Y he cantado la tristeza de lo que nace.
Alejandra Pizarnik, Árbol de Diana, 1964
Dei o salto de mim até ao amanhecer.
Deixei o meu corpo junto à luz
e cantei a tristeza do que nasce.
[mera hipótese de tradução minha]
____________________
A semana que passou começou com este céu, não consegui tempo para recuperar A Fuga da Morte de Célan e as magnólias ainda não abriram como só elas sabem, assombrosamente, na claridade.
Amanheceres. Crepúsculos dourados. Nuvens breves.
E a poesia longe.
Disponível «silêncio», prenda para Heloísa.
He dado el salto de mí al alba.
He dejado mi cuerpo junto a la luz
Y he cantado la tristeza de lo que nace.
Alejandra Pizarnik, Árbol de Diana, 1964
Dei o salto de mim até ao amanhecer.
Deixei o meu corpo junto à luz
e cantei a tristeza do que nasce.
[mera hipótese de tradução minha]
____________________
A semana que passou começou com este céu, não consegui tempo para recuperar A Fuga da Morte de Célan e as magnólias ainda não abriram como só elas sabem, assombrosamente, na claridade.
Amanheceres. Crepúsculos dourados. Nuvens breves.
E a poesia longe.
Disponível «silêncio», prenda para Heloísa.