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sábado, dezembro 13, 2003

naufrágios*

se é no silêncio que desaguam estes dias
as árvores ao crepúsculo só podem querer dizer

naufrágios

quarta-feira, dezembro 10, 2003

uma certa forma de errância*

chegou. Como explicar o que me diz este livro? Ainda não li tudo. Quero demorar. Como uma ilha adiada no peito.



Na periferia da manhã, levemente adiada,
improviso uma ilha.
Tão nua como páginas em branco.
E concedo-me o direito de esperar Ulisses.
A minha fronte marcada com palavras sem destino.

...............................................

O teu rosto, longamente procurado,
não tem búzios, nem conchas, nem corais.
Na praia, até então intacta,
sinto a luz de teus passos.
Ou será uma onda fugitiva,
a tornar transparente a tua ausência?

...............................................

Surpreendida por um caminho sem tempo,
deixo que a lua se instale em minha pele,
lasciva e húmida. Habito uma ilha suspeita
de servir de abrigo a veleiros perdidos.
E digo: há um mar horizontal na solidão
de uma mulher, com as mãos cansadas
de sulcar distâncias em caminhos de espuma.

Graça Pires, Uma certa forma de errância, V. N. Gaia, Ed. Ausência, 2003.

terça-feira, dezembro 09, 2003

também quero falar dos*
objectos e elogiá-los. ou amaldiçoá-los, tanto faz.

dança-me no polegar esquerdo um anel de lata, torto. de inverno mal consigo segurá-lo. as mãos murcham com o frio, apequeno-me ainda mais. não sei que lhe faça. junto o polegar ao indicador, chocalho a mão, e viaja de um dedo ao outro. não significa nada, o anel. nada. por muito que se finja, ou não queira saber, sempre se sabe quando um gesto não quer dizer nada. ou pior, sabe-se quando só muito remotamente se assemelha ao que se fingiu acreditar.
e eu nunca sequer suspirei por diamantes.

segunda-feira, dezembro 08, 2003

livro sexto*

Instante

Deixai-me limpo
O ar dos quartos
E liso
O branco das paredes

Deixai-me com as coisas
Fundadas no silêncio

Sophia de Mello Breyner, Livro Sexto, Lisboa, Caminho, 2003.

[Perseguirei mesmo a mesma claridade?]

dualidades mí­nimas #34

de que espécie de matéria
se faz o silêncio que permanece
depois do poema?

novos links e actualizações*

blog experimental
BdE - Blogue de Esquerda (II)
Gotas de orvalho
Lobices
o companheiro secreto
outras páginas
Poeira de estrelas
respirar o mesmo ar
universos desfeitos
Vidro Azul

dualidades mí­nimas #33

como o mar contra o verão
roendo os tornozelos- é molhado

e o frio no corpo todo por dentro dos ossos


domingo, dezembro 07, 2003

da arte de beijar e...*
E então um de nós disse ao outro: "Vou beijar-te a boca como se beijasse o sexo de uma mulher. Beija-me a boca como se beijasses o sexo de uma mulher. E com as minhas mãos vou entreabrir-te a boca como quem abre o sexo de uma mulher. Sim, pode ser o meu."
E o outro disse: "Gostas? Eu gosto. Queres gostar mais? Eu quero. Fecha a boca um pouco mais. Não tenhas medo de suspirar. E quando te quiseres vir, quando já não aguentares mais, quero que te venhas sobre as minhas costas nuas, descobertas."

Nos Teus Braços Morreríamos
, Pedro Paixão, Cotovia, 1999


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