sábado, outubro 25, 2003
Re: Re: Re: »~«*
onde pétala a pétala inicio a nudez
e o sopro dos mortos interrompe os umbrais
onde estás
onde de deus em deus me estremeço
e também os adros se definem de desejo
como anjos obscenos
onde de joelho a joelho me convences
e aí são os lugares do último silêncio
onde pétala a pétala inicio a nudez
e o sopro dos mortos interrompe os umbrais
onde estás
onde de deus em deus me estremeço
e também os adros se definem de desejo
como anjos obscenos
onde de joelho a joelho me convences
e aí são os lugares do último silêncio
post it*
Agradecer ao Farol das Artes ter feito respirar um poema do Sob a luz do mar.
Agradecer a referência no Rain Song, principalmente porque prevalece o seu gosto.
Agradecer ao granito a existência do Quartzo, Feldspato & Mica.
Marulhar, por causa d'O Mal. E tantas outras palavras.
Ter medo e esperança: a poesia vai acabar.
E acrescentar outro post it.
Agradecer ao Farol das Artes ter feito respirar um poema do Sob a luz do mar.
Agradecer a referência no Rain Song, principalmente porque prevalece o seu gosto.
Agradecer ao granito a existência do Quartzo, Feldspato & Mica.
Marulhar, por causa d'O Mal. E tantas outras palavras.
Ter medo e esperança: a poesia vai acabar.
E acrescentar outro post it.
imitação da vida*
foi o cd que andou a rodar por aqui durante a semana. Sentir Bethânia no fio das palavras de Fernando Pessoa, invocando o deus dos sem deuses entre mil afazeres que esgotam o tempo e definham os dias. Depois, eu não tenho um sentido bloguístico apurado. Explicando: não consigo fazer de um recanto do nada um post. Só uma curva do caminho me andou sempre a pedir alguma coisa. A minha curva do Outono que no ano passado já me dera um poema. No fim de Outubro, ela começa a ficar vermelha e os muros que a sustentam dividem com o pôr-do-sol a tentação da mais pura beleza, olhos nos olhos, porque a curva está voltada para Ocidente. Mas ainda não foi desta que parei o carro, apaguei o rádio, encostei o braço à janela e me pus olhar pelo simples prazer de olhar.
Não era importante escrever sobre isto.
foi o cd que andou a rodar por aqui durante a semana. Sentir Bethânia no fio das palavras de Fernando Pessoa, invocando o deus dos sem deuses entre mil afazeres que esgotam o tempo e definham os dias. Depois, eu não tenho um sentido bloguístico apurado. Explicando: não consigo fazer de um recanto do nada um post. Só uma curva do caminho me andou sempre a pedir alguma coisa. A minha curva do Outono que no ano passado já me dera um poema. No fim de Outubro, ela começa a ficar vermelha e os muros que a sustentam dividem com o pôr-do-sol a tentação da mais pura beleza, olhos nos olhos, porque a curva está voltada para Ocidente. Mas ainda não foi desta que parei o carro, apaguei o rádio, encostei o braço à janela e me pus olhar pelo simples prazer de olhar.
Não era importante escrever sobre isto.
sexta-feira, outubro 24, 2003
Re: Re: »~«*
onde o canto mais se abre
e as salas fechadas se enternecem do vento
onde um gesto teu torna mais azul esta veia saliente
onde são gastos os móveis e
os cortinados são pardos de pó
onde as mães aquecem pijamas que se vestem
como ternuras a caminho do sonho
onde os carros passam ao largo das camas
e o que se ouve dos rios é a tua saliva em
desaustinada correria até mim
onde o canto mais se abre
e as salas fechadas se enternecem do vento
onde um gesto teu torna mais azul esta veia saliente
onde são gastos os móveis e
os cortinados são pardos de pó
onde as mães aquecem pijamas que se vestem
como ternuras a caminho do sonho
onde os carros passam ao largo das camas
e o que se ouve dos rios é a tua saliva em
desaustinada correria até mim
terça-feira, outubro 21, 2003
o demónio do movimento*
Partilhando convite recebido por mail: A Fnac e a Cavalo de Ferro gostariam de contar com a sua presença na sessão de lançamento do livro O DEMÓNIO DO MOVIMENTO de Stefan Grabinski. A sessão terá lugar no Fórum Fnac Chiado, esta quarta-feira, dia 22 de Outubro, pelas 18.30. A apresentação da obra estará a cargo de Raúl Henriques e Wojciech Charchalis.
Não posso ir mas já encomendei o livro. Interessa-me bastante para as possíveis leituras dos alunos do 12.º Ano.
Partilhando convite recebido por mail: A Fnac e a Cavalo de Ferro gostariam de contar com a sua presença na sessão de lançamento do livro O DEMÓNIO DO MOVIMENTO de Stefan Grabinski. A sessão terá lugar no Fórum Fnac Chiado, esta quarta-feira, dia 22 de Outubro, pelas 18.30. A apresentação da obra estará a cargo de Raúl Henriques e Wojciech Charchalis.
Não posso ir mas já encomendei o livro. Interessa-me bastante para as possíveis leituras dos alunos do 12.º Ano.
Re: »~«*
onde as noites do vento que foge aguardam
e a inclinação dos telhados me intimida
onde as árvores cavalgam atadas às raízes
das sombras e os candeeiros repetem o meu nome
como gumes
onde os demónios regressam para dançar
e eu aceito como se me dessem uma flor
onde as noites do vento que foge aguardam
e a inclinação dos telhados me intimida
onde as árvores cavalgam atadas às raízes
das sombras e os candeeiros repetem o meu nome
como gumes
onde os demónios regressam para dançar
e eu aceito como se me dessem uma flor
segunda-feira, outubro 20, 2003
recuperado do baú para*
misturar com as tuas palavras:
Olhei em vão o pulso à procura de horas. E, depois, também a esquadria da janela segurando a noite. Há quanto tempo escurecera? Que penumbra era essa que desabara do céu tão silenciosamente, tão sem eu dar por nada? Girei na cadeira e fixei o telefone pousado na mesinha. Seria possível que alguma vez voltasse a trazer-me o som de uma voz quente e conhecida como essas que a chuva lembrava às vezes? A chuva. Um rumor antigo despenhando-se cegamente na pedra lisa dos parapeitos, rasgando sulcos na terra fecunda dos canteiros, abrindo pequenos golpes nos vidros - feridas que sarariam logo depois, na confusão umas das outras. Quem teria inventado o Inverno, os dias curtos que o amor não tinha tempo de visitar, os lençóis frios quando o corpo se virava na cama, desprevenido? Podia morrer-se a pensar nisso, a olhar os nós crescendo nos dedos como enfermidades sempre novas. Talvez a morte fosse isso mesmo, um imenso Inverno. Bastava que nos sentássemos quietos e deixássemos de comer, de andar, de falar, que fixássemos as mãos e ouvíssemos o ruído da chuva como um aviso.
Maria do Rosário Pedreira, Alguns homens, duas mulheres e eu, VNF, Quasi, 2002, pp 131-132
Da leitura deste livro ficou-me o mesmo encanto do encontro com a poesia desta autora, há um ano e tal. Sim, é a mesma d' O canto do vento nos ciprestes e teve o condão de me conseguir levar para dentro do livro, de ler a história como se a estivesse a viver e de me surpreender por diversas vezes com o rumo da narrativa [ainda agora não tenho bem a certeza como terminou o livro]. Acresce a isto uma escrita poética sempre presente, como um finíssimo tecido que se usa ou despe para o acto do amor.
Recomendo.
[escrito a 30.01.2003]
misturar com as tuas palavras:
Olhei em vão o pulso à procura de horas. E, depois, também a esquadria da janela segurando a noite. Há quanto tempo escurecera? Que penumbra era essa que desabara do céu tão silenciosamente, tão sem eu dar por nada? Girei na cadeira e fixei o telefone pousado na mesinha. Seria possível que alguma vez voltasse a trazer-me o som de uma voz quente e conhecida como essas que a chuva lembrava às vezes? A chuva. Um rumor antigo despenhando-se cegamente na pedra lisa dos parapeitos, rasgando sulcos na terra fecunda dos canteiros, abrindo pequenos golpes nos vidros - feridas que sarariam logo depois, na confusão umas das outras. Quem teria inventado o Inverno, os dias curtos que o amor não tinha tempo de visitar, os lençóis frios quando o corpo se virava na cama, desprevenido? Podia morrer-se a pensar nisso, a olhar os nós crescendo nos dedos como enfermidades sempre novas. Talvez a morte fosse isso mesmo, um imenso Inverno. Bastava que nos sentássemos quietos e deixássemos de comer, de andar, de falar, que fixássemos as mãos e ouvíssemos o ruído da chuva como um aviso.
Maria do Rosário Pedreira, Alguns homens, duas mulheres e eu, VNF, Quasi, 2002, pp 131-132
Da leitura deste livro ficou-me o mesmo encanto do encontro com a poesia desta autora, há um ano e tal. Sim, é a mesma d' O canto do vento nos ciprestes e teve o condão de me conseguir levar para dentro do livro, de ler a história como se a estivesse a viver e de me surpreender por diversas vezes com o rumo da narrativa [ainda agora não tenho bem a certeza como terminou o livro]. Acresce a isto uma escrita poética sempre presente, como um finíssimo tecido que se usa ou despe para o acto do amor.
Recomendo.
[escrito a 30.01.2003]
domingo, outubro 19, 2003
desassossegos*
Não sei grande coisa de desassossegos,
o mais que faço é aproximar-me de uma varanda
como de uma falésia, esquecer-me, mesmo,
do guarda-chuva e sentir o céu, fechar
os olhos quando o desejo vem e não te ter
como se te tivesse.
Não sei grande coisa de desassossegos,
o mais que faço é aproximar-me de uma varanda
como de uma falésia, esquecer-me, mesmo,
do guarda-chuva e sentir o céu, fechar
os olhos quando o desejo vem e não te ter
como se te tivesse.
postal de partida*
Deixo o teu nome por dizer, de propósito:
um carteiro sabedor de mistérios saberá de ti
no momento exacto e por baixo da tua porta,
como antigamente, um folha de papel romperá
o silêncio ainda que em silêncio permaneça a casa.
E ainda no tempo exacto, com uns minutos de atraso
porque nunca foste de cumprir horários, desdobrarás
este postal onde as palavras andam às voltas
de coisa nenhuma e nada dizem do que te quero dizer
e as tuas mãos irão tremer.
Sente o mundo que todas as pedras estão fora
do lugar, como sempre deveriam estar, porque
essa é a natureza do vento nos teus olhos.
Deixo a música a tocar como despedida.
Deixo o teu nome por dizer, de propósito:
um carteiro sabedor de mistérios saberá de ti
no momento exacto e por baixo da tua porta,
como antigamente, um folha de papel romperá
o silêncio ainda que em silêncio permaneça a casa.
E ainda no tempo exacto, com uns minutos de atraso
porque nunca foste de cumprir horários, desdobrarás
este postal onde as palavras andam às voltas
de coisa nenhuma e nada dizem do que te quero dizer
e as tuas mãos irão tremer.
Sente o mundo que todas as pedras estão fora
do lugar, como sempre deveriam estar, porque
essa é a natureza do vento nos teus olhos.
Deixo a música a tocar como despedida.