sexta-feira, junho 03, 2005
"they fuck you up, your mum and dad" #1*
lá em casa, a minha mãe sempre nos servia às refeições. mais do que um indicador de subserviência (coisa que a mãezinha nunca foi), era antes mais uma das suas maneiras de dizer quem manda aqui sou eu. a gente arriscava um já chega, mas o prato era ela quem o fazia, ela é que sabia quando já chegava.
e assim lá cheguei à maioridade, com o acanhamento de quem se teme incapaz de se servir e com evidente excesso de peso.
lá em casa, a minha mãe sempre nos servia às refeições. mais do que um indicador de subserviência (coisa que a mãezinha nunca foi), era antes mais uma das suas maneiras de dizer quem manda aqui sou eu. a gente arriscava um já chega, mas o prato era ela quem o fazia, ela é que sabia quando já chegava.
e assim lá cheguei à maioridade, com o acanhamento de quem se teme incapaz de se servir e com evidente excesso de peso.
"This Be The Verse"*
They fuck you up, your mum and dad.
They may not mean to, but they do.
They fill you with the faults they had
And add some extra, just for you.
But they were fucked up in their turn
By fools in old-style hats and coats,
Who half the time were soppy-stern
And half at one another's throats.
Man hands on misery to man.
It deepens like a coastal shelf.
Get out as early as you can,
And don't have any kids yourself.
cantado por anne clark, uma pequenina delícia.
They fuck you up, your mum and dad.
They may not mean to, but they do.
They fill you with the faults they had
And add some extra, just for you.
But they were fucked up in their turn
By fools in old-style hats and coats,
Who half the time were soppy-stern
And half at one another's throats.
Man hands on misery to man.
It deepens like a coastal shelf.
Get out as early as you can,
And don't have any kids yourself.
Philip Larkin
cantado por anne clark, uma pequenina delícia.
domingo, maio 29, 2005
depois não se escreve mais nada #2*
Existimos de forma concisa
num gomo de laranja, no feixe
de luz oblíquo ao parapeito da janela,
nas superfícies das paredes que sobem
até ao tecto da casa, no vidro outrora
e na gota de chuva e quando cessa a chuva
no troar das andorinhas, existimos de forma
concisa
não tendo o mundo outra forma de existir
Sandra Costa
Existimos de forma concisa
num gomo de laranja, no feixe
de luz oblíquo ao parapeito da janela,
nas superfícies das paredes que sobem
até ao tecto da casa, no vidro outrora
e na gota de chuva e quando cessa a chuva
no troar das andorinhas, existimos de forma
concisa
não tendo o mundo outra forma de existir
Sandra Costa
depois não se escreve mais nada #1*
observa-se tudo com palavras cheias de silêncio
depois não se escreve mais nada
Sandra Costa
observa-se tudo com palavras cheias de silêncio
depois não se escreve mais nada
Sandra Costa
