quinta-feira, dezembro 25, 2003
prenda de Natal para F.*
mar
Com que crença me aproximo
do grande silêncio acumulado?
Sandra Costa
mar
Com que crença me aproximo
do grande silêncio acumulado?
Sandra Costa
prenda de Natal para a Ana Pinto*
olá
entras pela casa com o sorriso
de quem chega pela primeira vez
ou eu que aguardo com o sorriso
de quem aprende a medo a receber
importa pois que cabem um no outro
que são francos- infantilmente rosados-
e que no tímido saudar arda já o
prenúncio do beijo
Cláudia Caetano
olá
entras pela casa com o sorriso
de quem chega pela primeira vez
ou eu que aguardo com o sorriso
de quem aprende a medo a receber
importa pois que cabem um no outro
que são francos- infantilmente rosados-
e que no tímido saudar arda já o
prenúncio do beijo
Cláudia Caetano
prenda de Natal para o Pedro Farinha*
partilha
Trago para a mesa tudo o que vi
da janela do meu quarto: as árvores,
os ângulos da praça, a inclinação perfeita
das sombras ao fim da tarde, o passo
apressado da mulher de negro e a
profundeza dos seus olhos que hoje
estavam no meu espelho
- trago tudo o que vi para a mesa e
alimento-me do vosso olhar divertido
pela minha distracção poética.
Sandra Costa
partilha
Trago para a mesa tudo o que vi
da janela do meu quarto: as árvores,
os ângulos da praça, a inclinação perfeita
das sombras ao fim da tarde, o passo
apressado da mulher de negro e a
profundeza dos seus olhos que hoje
estavam no meu espelho
- trago tudo o que vi para a mesa e
alimento-me do vosso olhar divertido
pela minha distracção poética.
Sandra Costa
prenda de Natal para a sombra*
sublime
era um resto de pouca coisa
— enquanto me socorria de te
ver partir
(um mapa desastrado— sem caminho
e o tesouro muito antes do fim)
um resto que não tendo como esgotar
sublimei à arte
de escalar planícies— que é como quem diz
levar o caminho rente ao corpo
ou elevar a terra
por meio das mãos afastando-a
Cláudia Caetano
sublime
era um resto de pouca coisa
— enquanto me socorria de te
ver partir
(um mapa desastrado— sem caminho
e o tesouro muito antes do fim)
um resto que não tendo como esgotar
sublimei à arte
de escalar planícies— que é como quem diz
levar o caminho rente ao corpo
ou elevar a terra
por meio das mãos afastando-a
Cláudia Caetano
prenda de Natal para o Silvano*
púbis
a origem do mundo segundo Courbet
e não ousaria imagem mais perfeita
para o poema se não fosse a chuva
que agora cai sobre o meu rosto:
há lugares que requerem
uma respiração entrecortada
e a escorrência de segredos
pressentidos
Sandra Costa
púbis
a origem do mundo segundo Courbet
e não ousaria imagem mais perfeita
para o poema se não fosse a chuva
que agora cai sobre o meu rosto:
há lugares que requerem
uma respiração entrecortada
e a escorrência de segredos
pressentidos
Sandra Costa
prenda de Natal para a louise*
serenidade
vai passar uma eternidade de pó caindo
sobre as coisas sem que um vento se levante
amainará em lume o fogo que antes forçara
o suor no rosto ficando raso como um mar chão de brasas
o olhar não se deterá sobre nada que o não deseje
e será calmo arrastando um silêncio que se diria
religioso
- tenho um sonho de serenidade a cumprir
ali adiante
Cláudia Caetano
serenidade
vai passar uma eternidade de pó caindo
sobre as coisas sem que um vento se levante
amainará em lume o fogo que antes forçara
o suor no rosto ficando raso como um mar chão de brasas
o olhar não se deterá sobre nada que o não deseje
e será calmo arrastando um silêncio que se diria
religioso
- tenho um sonho de serenidade a cumprir
ali adiante
Cláudia Caetano
prenda de Natal para a Ângela*
efemeridade
os inventários as estações
a espuma o futuro
os batimentos cardíacos as pétalas
a inocência o pó
os sabores não os cheiros
o amor não a saudade
o silêncio não as palavras
os segredos não a sede
Sandra Costa
efemeridade
os inventários as estações
a espuma o futuro
os batimentos cardíacos as pétalas
a inocência o pó
os sabores não os cheiros
o amor não a saudade
o silêncio não as palavras
os segredos não a sede
Sandra Costa
prenda de Natal para o jm*
sombra
recolhe-te comigo
aqui onde a luz se encolhe de segredos
como se as horas todas tardias
abriguemo-nos onde é mais ameno o dia
ou
aquieta-te assim em mim
sob a sombra do meu corpo o arrepio
começa logo que a minha mão
feita vulto se afigura no
teu rosto
Cláudia Caetano
sombra
recolhe-te comigo
aqui onde a luz se encolhe de segredos
como se as horas todas tardias
abriguemo-nos onde é mais ameno o dia
ou
aquieta-te assim em mim
sob a sombra do meu corpo o arrepio
começa logo que a minha mão
feita vulto se afigura no
teu rosto
Cláudia Caetano
prenda de Natal para eli e Skuld*
ternura/ tendresse
eram de ternura os dias prometidos
tão frágeis os gestos
com que o mundo se despia
como moribundos os persistentes medos
que caíam
Sandra Costa
ternura/ tendresse
eram de ternura os dias prometidos
tão frágeis os gestos
com que o mundo se despia
como moribundos os persistentes medos
que caíam
Sandra Costa
prenda de Natal para a Maria*
magia
entende que me são fáceis as horas
debaixo de água olhando o céu
porque me é possível colher cerejas
em qualquer dia de janeiro
descansa em mim o encanto inesperado
das folhas caídas
e se me olhas
cada gesto meu
é contorcido de ternuras
e a realidade soçobra a gosto em magia
Cláudia Caetano
magia
entende que me são fáceis as horas
debaixo de água olhando o céu
porque me é possível colher cerejas
em qualquer dia de janeiro
descansa em mim o encanto inesperado
das folhas caídas
e se me olhas
cada gesto meu
é contorcido de ternuras
e a realidade soçobra a gosto em magia
Cláudia Caetano
prenda de Natal para o João*
pensar
que se detenha o simulacro de vida em seu
curso
ou interrompa a quotidiana coreografia
(um dois um dois um dois um)
dos pés fingindo destinos
- lugar à arte maior de pensar-
que se proceda ao magistério do mundo
Cláudia Caetano
pensar
que se detenha o simulacro de vida em seu
curso
ou interrompa a quotidiana coreografia
(um dois um dois um dois um)
dos pés fingindo destinos
- lugar à arte maior de pensar-
que se proceda ao magistério do mundo
Cláudia Caetano
prenda de Natal para o João*
paz
dos sons a sombra da árvore
onde a tarde se demora
das orações a evidência da neve
onde os nomes se apagam
do interior do silêncio a claridade
onde as pedras desaparecem
Sandra Costa
paz
dos sons a sombra da árvore
onde a tarde se demora
das orações a evidência da neve
onde os nomes se apagam
do interior do silêncio a claridade
onde as pedras desaparecem
Sandra Costa
prenda de Natal para o João*
pensar
que se detenha o simulacro de vida em seu
curso
ou interrompa a quotidiana coreografia
(um dois um dois um dois um)
dos pés fingindo destinos
- lugar à arte maior de pensar-
que se proceda ao magistério do mundo
Cláudia Caetano
pensar
que se detenha o simulacro de vida em seu
curso
ou interrompa a quotidiana coreografia
(um dois um dois um dois um)
dos pés fingindo destinos
- lugar à arte maior de pensar-
que se proceda ao magistério do mundo
Cláudia Caetano
prenda de Natal para o duende*
natureza
Levava nos braços, quando a morte
lhe apareceu do lado do ombro direito,
um cortejo de fábulas arrancadas à floresta:
sem outro amparo, caiu sobre a terra
e as sementes regressaram aos poemas.
Sandra Costa
natureza
Levava nos braços, quando a morte
lhe apareceu do lado do ombro direito,
um cortejo de fábulas arrancadas à floresta:
sem outro amparo, caiu sobre a terra
e as sementes regressaram aos poemas.
Sandra Costa
prenda de Natal para o rafa*
dual
grande é este sítio que nos comporta
e inteiro
(não pensa o exílio se
para a minha está a tua mão aberta)
cheio é este sopro que nos diz
e veloz
sou eu ainda do outro lado do espelho
quando já me adivinho dual
Cláudia Caetano
dual
grande é este sítio que nos comporta
e inteiro
(não pensa o exílio se
para a minha está a tua mão aberta)
cheio é este sopro que nos diz
e veloz
sou eu ainda do outro lado do espelho
quando já me adivinho dual
Cláudia Caetano
prenda de Natal para a Teresa*
paixão
como uma pedra de sílabas vermelhas que queimam
como um poema de pulsos abertos que segredam
como uma artéria de gumes profundos que ardem
como um punhal de flancos desafiando o medo
como uma nudez urgente explodindo
Sandra Costa
paixão
como uma pedra de sílabas vermelhas que queimam
como um poema de pulsos abertos que segredam
como uma artéria de gumes profundos que ardem
como um punhal de flancos desafiando o medo
como uma nudez urgente explodindo
Sandra Costa
prenda de Natal para a Troti*
trotinete
todas as crianças da família sabem
que é no sótão da avó que começa
oficialmente a infância: basta desatar
os nós do tempo e sair à rua
na velha trotinete
(com que trote e com que sorte
se trava uma luta contra a morte?)
Sandra Costa
trotinete
todas as crianças da família sabem
que é no sótão da avó que começa
oficialmente a infância: basta desatar
os nós do tempo e sair à rua
na velha trotinete
(com que trote e com que sorte
se trava uma luta contra a morte?)
Sandra Costa
prenda de Natal para o Fernando Dinis*
vertigem
no cimo das escadas como
se o que esquecemos fosse
o chão mais perto
Sandra Costa
vertigem
no cimo das escadas como
se o que esquecemos fosse
o chão mais perto
Sandra Costa
prenda de Natal para o lobo velho*
voar
tocar com os pés um limite azul
que não seja o mar
Sandra Costa
voar
tocar com os pés um limite azul
que não seja o mar
Sandra Costa
prenda de Natal para o Pedro Jordão*
beijo
não saberei nunca escrever
como Jorge de Sena
poemas
sobre o beijo
por mais que estremeça
se os teus lábios se acercam
dos meus seios
por mais recantos
que com a língua te
(des)cubra
Sandra Costa
beijo
não saberei nunca escrever
como Jorge de Sena
poemas
sobre o beijo
por mais que estremeça
se os teus lábios se acercam
dos meus seios
por mais recantos
que com a língua te
(des)cubra
Sandra Costa
prenda de Natal para o hmbf*
solidão
esquecer devagar o mundo
por dentro dos olhos reservar uma ilha
para os dias inevitáveis e deixar sem resguardos
que o ventre seque das minhas próprias mãos
morrer um dia de cada vez
Sandra Costa
solidão
esquecer devagar o mundo
por dentro dos olhos reservar uma ilha
para os dias inevitáveis e deixar sem resguardos
que o ventre seque das minhas próprias mãos
morrer um dia de cada vez
Sandra Costa
prenda de Natal para mim*
pálpebra
é o beijo
em ternura deixado em cada pálpebra
que me abriga da noite
(mais que o recolher do cobertor em aconchego)
vem de longe este cuidado
vem de um segredo
e é de sempre o ardor nos olhos
o agastar-me de lágrimas
se soubesse alguma coisa da paz diria
ser um sono solto
e se soubesse alguma coisa do corpo
diria que quanto mais frágil melhor
Cláudia Caetano
pálpebra
é o beijo
em ternura deixado em cada pálpebra
que me abriga da noite
(mais que o recolher do cobertor em aconchego)
vem de longe este cuidado
vem de um segredo
e é de sempre o ardor nos olhos
o agastar-me de lágrimas
se soubesse alguma coisa da paz diria
ser um sono solto
e se soubesse alguma coisa do corpo
diria que quanto mais frágil melhor
Cláudia Caetano
prenda de Natal para a Maria*
mão
um dia, dei-te a minha mão
para que com ela segurasses uma tarde inquieta
e o mundo continuasse em movimento lento
sem arritmias
(assim, enquanto o sossego anoitecia
só a tua mão teve um ritmo irregular
junto à minha)
Sandra Costa
mão
um dia, dei-te a minha mão
para que com ela segurasses uma tarde inquieta
e o mundo continuasse em movimento lento
sem arritmias
(assim, enquanto o sossego anoitecia
só a tua mão teve um ritmo irregular
junto à minha)
Sandra Costa
prenda de Natal para o Alexandre Monteiro*
amor
todos os poemas de amor já foram
escritos
apagados
alumbrados
proscritos
eternizados
negados perante uma tribuna de deuses sem sexo
suportados em nome dos lugares que não se conseguem pronunciar
violentados nas entranhas à hora das madrugadas virgens
premiados com perguntas estúpidas como cenas dos próximos capítulos
enterrados como mártires de mais uma religião
todos os poemas de amor já (te) foram
entregues
Sandra Costa
amor
todos os poemas de amor já foram
escritos
apagados
alumbrados
proscritos
eternizados
negados perante uma tribuna de deuses sem sexo
suportados em nome dos lugares que não se conseguem pronunciar
violentados nas entranhas à hora das madrugadas virgens
premiados com perguntas estúpidas como cenas dos próximos capítulos
enterrados como mártires de mais uma religião
todos os poemas de amor já (te) foram
entregues
Sandra Costa
prenda de Natal para o João Pedro*
orvalho
sabemos que a luz se comporta
dentro de uma gota de orvalho
como a noite se espalha pelos
ossos das casas mais pequenas
dessa ciência delicada nascem
verdes os oblívios postulados
do deslumbramento e da água
Cláudia Caetano
orvalho
sabemos que a luz se comporta
dentro de uma gota de orvalho
como a noite se espalha pelos
ossos das casas mais pequenas
dessa ciência delicada nascem
verdes os oblívios postulados
do deslumbramento e da água
Cláudia Caetano
prenda de Natal para o Rui Amaral*
música
por vezes, fica-se imóvel
a noite sob as pálpebras
e tão frágil a respiração
como a haste das papoilas
fica-se imóvel
porque à volta tudo dança
fazendo sentido
conjugando fugas
quebrando segredos
silenciando um adeus
Sandra Costa
música
por vezes, fica-se imóvel
a noite sob as pálpebras
e tão frágil a respiração
como a haste das papoilas
fica-se imóvel
porque à volta tudo dança
fazendo sentido
conjugando fugas
quebrando segredos
silenciando um adeus
Sandra Costa
prenda de Natal para a margarete*
abraço
deixo-me nos teus braços e
a gente faz de conta
que sou tua
tomo-te nos meus braços e
a gente continua
agora és tu
apertamo-nos como se nos segurássemos
não sei se de nós se para nós
— em contínuo balanço o equilíbrio
entre o querer deixar-me e o tanto querer
agarrar-te—
os corpos colados e os braços em força
levando o abraço ao resumo de uma qualquer fé
Cláudia Caetano
abraço
deixo-me nos teus braços e
a gente faz de conta
que sou tua
tomo-te nos meus braços e
a gente continua
agora és tu
apertamo-nos como se nos segurássemos
não sei se de nós se para nós
— em contínuo balanço o equilíbrio
entre o querer deixar-me e o tanto querer
agarrar-te—
os corpos colados e os braços em força
levando o abraço ao resumo de uma qualquer fé
Cláudia Caetano
prenda de Natal para a Viúva Alegre*
eternidade
um dia tudo vai parecer acabar
as coisas tomarão formas como que terminais
e diremos adeus como que para sempre
será longuíssimo à custa de evitar cumprir-se
e será daqui a muito tempo
que só se admite na distância
dos muitos anos
arriscar a sobreviver-lhe é arriscar
a eternidade
Cláudia Caetano
eternidade
um dia tudo vai parecer acabar
as coisas tomarão formas como que terminais
e diremos adeus como que para sempre
será longuíssimo à custa de evitar cumprir-se
e será daqui a muito tempo
que só se admite na distância
dos muitos anos
arriscar a sobreviver-lhe é arriscar
a eternidade
Cláudia Caetano
prenda de Natal para o JAR*
fruto
é o verão anunciado na redondez das árvores
que é como quem diz um medo novo
na redondez do ventre
Sandra Costa
fruto
é o verão anunciado na redondez das árvores
que é como quem diz um medo novo
na redondez do ventre
Sandra Costa
prenda de Natal para o Constantino*
península
um pouco menos só
um pouco menos de mar
apenas um pouco mais de ti
e de mim nascerão raízes como
uma desesperada ilha sonhando-se
península crescendo-se de braços que unam
um pouco mais de terra
Cláudia Caetano
península
um pouco menos só
um pouco menos de mar
apenas um pouco mais de ti
e de mim nascerão raízes como
uma desesperada ilha sonhando-se
península crescendo-se de braços que unam
um pouco mais de terra
Cláudia Caetano
prenda de Natal para a Paula*
saudade
Saudade é a teimosia de lutar contra a morte
empunhando nos olhos, uma nuvem
e nos lábios, uma flor.
Sandra Costa
saudade
Saudade é a teimosia de lutar contra a morte
empunhando nos olhos, uma nuvem
e nos lábios, uma flor.
Sandra Costa
prenda de Natal para a Márcia*
azul
o céu
é meu
o mar
é meu
as montanhas de gelo que espelham azul
minhas
os promontórios varandas acimando azul
meus
sei bem a cor do meu sangue e no entanto
azul cada um dos ri(sc)os que me desaguam
nas mãos
e variações violáceas
dizem-se azuis os dias bonitos
o certo será desejar-te um amor azul
Cláudia Caetano
azul
o céu
é meu
o mar
é meu
as montanhas de gelo que espelham azul
minhas
os promontórios varandas acimando azul
meus
sei bem a cor do meu sangue e no entanto
azul cada um dos ri(sc)os que me desaguam
nas mãos
e variações violáceas
dizem-se azuis os dias bonitos
o certo será desejar-te um amor azul
Cláudia Caetano
prenda de Natal para o Manuel*
sede
Sede é o lugar das insónias
das ilhas que ardem sem o mar à volta
das mãos onde os exílios não cicatrizam
dos monólogos que ecoam em cada onda
dos rios que me secam em cada pulso.
Sandra Costa
sede
Sede é o lugar das insónias
das ilhas que ardem sem o mar à volta
das mãos onde os exílios não cicatrizam
dos monólogos que ecoam em cada onda
dos rios que me secam em cada pulso.
Sandra Costa
prenda de Natal para o Paulo*
maresia
partes como o mar se abala de maré
e deixas assim a cama como os lençóis se deixam
embaraçados em baixo
depois do sexo o cheiro como se nos
banhássemos e o sal no corpo não o resto do suor
do amor ali esgotado
— por isso me fere de morte a maresia
me assusta a praia na vazante
Cláudia Caetano
maresia
partes como o mar se abala de maré
e deixas assim a cama como os lençóis se deixam
embaraçados em baixo
depois do sexo o cheiro como se nos
banhássemos e o sal no corpo não o resto do suor
do amor ali esgotado
— por isso me fere de morte a maresia
me assusta a praia na vazante
Cláudia Caetano
prenda de Natal para o cvm*
maçã
se me tento mordo
se te como beijo
se me sorves escorro
se te inundo cedo
se me matas cobro
Sandra Costa
maçã
se me tento mordo
se te como beijo
se me sorves escorro
se te inundo cedo
se me matas cobro
Sandra Costa
prenda de Natal para a Raquel Crato*
sentir
atropelo a vida se caso disso
rasgo a carne
— é um mato cerrado—
agiganto-me e abocanho o mundo
em demorada prova
em insuspeito paladar
trata-se de sorver à última gota
o que sobra das palavras
trata-se de
sem termos e sem juízo
deixar entrar o espaço todo em volta
e reunir no agora o essencial
sentir
Cláudia Caetano
sentir
atropelo a vida se caso disso
rasgo a carne
— é um mato cerrado—
agiganto-me e abocanho o mundo
em demorada prova
em insuspeito paladar
trata-se de sorver à última gota
o que sobra das palavras
trata-se de
sem termos e sem juízo
deixar entrar o espaço todo em volta
e reunir no agora o essencial
sentir
Cláudia Caetano
prenda de Natal para o Luís*
claridade
Não sei se procuro a claridade ou me contemplo
ao espelho de versos transviados que te agitam.
Sandra Costa
claridade
Não sei se procuro a claridade ou me contemplo
ao espelho de versos transviados que te agitam.
Sandra Costa
prenda de Natal para a Cláudia*
corpo
despojos de errância
abandono dos versos mais puros
urgência desamparo ilha onde me fixo e que me assola
minúcias onde os frutos abrem
sono onde rebentam as vertigens
umbral onde as noites me apunhalam
Sandra Costa
corpo
despojos de errância
abandono dos versos mais puros
urgência desamparo ilha onde me fixo e que me assola
minúcias onde os frutos abrem
sono onde rebentam as vertigens
umbral onde as noites me apunhalam
Sandra Costa
prenda de Natal para a Maria*
líquido
deixa que me entorne por ti
deixa que me faça escorrência em teu corpo
como a chuva num solo encharcado
ou que me entranhe
que tomes de imediato como
se comigo terminasse a mais
violenta seca
condescende comigo
deixa que force a metáfora para mal do poema
tanto mais o amor é líquido
quanto mais nos queremos em mistura
Cláudia Caetano
líquido
deixa que me entorne por ti
deixa que me faça escorrência em teu corpo
como a chuva num solo encharcado
ou que me entranhe
que tomes de imediato como
se comigo terminasse a mais
violenta seca
condescende comigo
deixa que force a metáfora para mal do poema
tanto mais o amor é líquido
quanto mais nos queremos em mistura
Cláudia Caetano
prenda de Natal para a Raquel*
ruína
se pudesses olhar para aqui
para este jeito que tenho de te dizer
o mesmo sempre
para estas mãos vazias de razões
se te tentassem as estranhas sombras
que resultam do entardecer do corpo
se não te assustassem as suas formas
sob uma luz que já encobre
se contra tudo o que é seguro te desses
ao horror
supõe(s) que verias para lá
da ruína(?)
Cláudia Caetano
ruína
se pudesses olhar para aqui
para este jeito que tenho de te dizer
o mesmo sempre
para estas mãos vazias de razões
se te tentassem as estranhas sombras
que resultam do entardecer do corpo
se não te assustassem as suas formas
sob uma luz que já encobre
se contra tudo o que é seguro te desses
ao horror
supõe(s) que verias para lá
da ruína(?)
Cláudia Caetano
prenda de Natal para tafan*
silêncio
é no silêncio que nascem as nuvens
e que assombradas abrem as magnólias
e que as manhãs se espantam com as varandas
e que os poemas descobrem que também morrem
Sandra Costa
silêncio
é no silêncio que nascem as nuvens
e que assombradas abrem as magnólias
e que as manhãs se espantam com as varandas
e que os poemas descobrem que também morrem
Sandra Costa
prenda de Natal para Ferran*
lembrança
camisola do avesso como um sinal
post-it na porta do frigorífico
cordel atado num aro
cruz desenhada na mão
toque polifónico à saída do carro
toda a gente avisada para o aviso
e esquecer-me que te vou esquecer
Sandra Costa
lembrança
camisola do avesso como um sinal
post-it na porta do frigorífico
cordel atado num aro
cruz desenhada na mão
toque polifónico à saída do carro
toda a gente avisada para o aviso
e esquecer-me que te vou esquecer
Sandra Costa
prenda de Natal para o Nuno*
sol
vem que são frias estas mãos de inverno
será demais pedir que sejas sol
mas outra coisa não sei que possas ser
se só tu me devolves o rubor às faces
amorna-me estes dedos e restituí-lhes a cor
mais que isso
apenas que brilhes alto
que aqueças e me sorrias
que me assegures um qualquer tipo de órbita
e que vivas por milhões de anos
Cláudia Caetano
sol
vem que são frias estas mãos de inverno
será demais pedir que sejas sol
mas outra coisa não sei que possas ser
se só tu me devolves o rubor às faces
amorna-me estes dedos e restituí-lhes a cor
mais que isso
apenas que brilhes alto
que aqueças e me sorrias
que me assegures um qualquer tipo de órbita
e que vivas por milhões de anos
Cláudia Caetano
prenda de Natal para F.*
vida
quero-me na sombra fresca da árvore
entendo-me mais no conforto dos abraços
mas mesmo se me queima um deserto na pele
levando-me de medos e de suores se me
esqueço de mim que não sei de ti
se é tempo de incertos olhos
mesmo assim
quero-me no desacerto da vida
Cláudia Caetano
vida
quero-me na sombra fresca da árvore
entendo-me mais no conforto dos abraços
mas mesmo se me queima um deserto na pele
levando-me de medos e de suores se me
esqueço de mim que não sei de ti
se é tempo de incertos olhos
mesmo assim
quero-me no desacerto da vida
Cláudia Caetano
prenda de Natal para a Sara*
mineral
ele assemelhava-se às histórias que permanecem
de tronco aberto à respiração do inverno
de pés descalços ao gume dos poetas
ele assemelhava-se
e trazia nos lábios a melancolia dos que não sabem
morrer
Sandra Costa
mineral
ele assemelhava-se às histórias que permanecem
de tronco aberto à respiração do inverno
de pés descalços ao gume dos poetas
ele assemelhava-se
e trazia nos lábios a melancolia dos que não sabem
morrer
Sandra Costa
prenda de Natal para o Duarte*
sussurrar
é por soltares tão lentas e encorpadas as palavras
tão quentes e tão junto ao pescoço
tão perfeitas em seus círculos tão inteiras
em mim
que acredito saberem do amor os danados
— é tanto mais leve o sono
se te quero o sussurrar
Cláudia Caetano
sussurrar
é por soltares tão lentas e encorpadas as palavras
tão quentes e tão junto ao pescoço
tão perfeitas em seus círculos tão inteiras
em mim
que acredito saberem do amor os danados
— é tanto mais leve o sono
se te quero o sussurrar
Cláudia Caetano
prenda de Natal para a lebre*
sorriso
O que ficou da infância no rosto dos velhos
é esta capacidade de revelarem a manhã
à sombra de uma árvore.
Sandra Costa
sorriso
O que ficou da infância no rosto dos velhos
é esta capacidade de revelarem a manhã
à sombra de uma árvore.
Sandra Costa
prenda de Natal para a Cristina*
romã
como a um fruto
que mais do que uma época tem um dia
guardo-te o momento exacto
será doce a romã de janeiro
se tanto de dezembros ansiada
será(s) suave nessa noite que te prometo
como a lisura rosada dos bagos
Cláudia Caetano
romã
como a um fruto
que mais do que uma época tem um dia
guardo-te o momento exacto
será doce a romã de janeiro
se tanto de dezembros ansiada
será(s) suave nessa noite que te prometo
como a lisura rosada dos bagos
Cláudia Caetano
prenda de Natal para o António*
sensibilidade
noites videntes estas
em que tudo silencio com poemas
e os regressos afloram à ponta dos dedos
Sandra Costa
sensibilidade
noites videntes estas
em que tudo silencio com poemas
e os regressos afloram à ponta dos dedos
Sandra Costa
prenda de Natal para a nastenka-d*
comboio
hei-de ter um comboio
hei-de ter os carris as árvores
um pequeno lago e passagens de nível
num romantismo pacóvio digo
hei-de ter um 'comboinho'— quero que seja a vapor—
montado no meio da sala
fundamental
uma agulha a meio do percurso que permita
à quinquagésima volta enviar a locomotiva
para a rota alternativa
talvez uma ponte sobre uma ribeira quase seca
e pedregosa
dir-me-ão do inconveniente
— sempre disseram— no meio da sala—
não ouvirei já se me faço longe
é tanta a terra que tenho a correr
Cláudia Caetano
comboio
hei-de ter um comboio
hei-de ter os carris as árvores
um pequeno lago e passagens de nível
num romantismo pacóvio digo
hei-de ter um 'comboinho'— quero que seja a vapor—
montado no meio da sala
fundamental
uma agulha a meio do percurso que permita
à quinquagésima volta enviar a locomotiva
para a rota alternativa
talvez uma ponte sobre uma ribeira quase seca
e pedregosa
dir-me-ão do inconveniente
— sempre disseram— no meio da sala—
não ouvirei já se me faço longe
é tanta a terra que tenho a correr
Cláudia Caetano
prenda de Natal para a catarina*
amigo
Não haverá palavra menos póstuma
e que ao mesmo tempo permaneça
para sempre depois da morte.
Sandra Costa
amigo
Não haverá palavra menos póstuma
e que ao mesmo tempo permaneça
para sempre depois da morte.
Sandra Costa
prenda de Natal para a amélia*
cristal
adiantas o peito na direcção
improvável das simetrias
de um brilho refractário
em teimosia de queimar lábios
adiantas o coração à boca
os olhos à luz os passos ao caminho
e chegas ainda outra vez
ao rosto o pedaço de cristal
que ontem talhaste contra o chão
em artes maiores
Cláudia Caetano
cristal
adiantas o peito na direcção
improvável das simetrias
de um brilho refractário
em teimosia de queimar lábios
adiantas o coração à boca
os olhos à luz os passos ao caminho
e chegas ainda outra vez
ao rosto o pedaço de cristal
que ontem talhaste contra o chão
em artes maiores
Cláudia Caetano
prenda de Natal para o Rui*
caridade
tudo falta, inevitavelmente,
se a noite dos néons cria um círculo fechado
sobre as ruas e de fora fica a cintilação
dos corações que amam o próximo
(acrescento ao poema um interminável silêncio
que um arqueólogo encontrou junto de velhas ânforas
que um dia deram de beber aos lábios)
Sandra Costa
caridade
tudo falta, inevitavelmente,
se a noite dos néons cria um círculo fechado
sobre as ruas e de fora fica a cintilação
dos corações que amam o próximo
(acrescento ao poema um interminável silêncio
que um arqueólogo encontrou junto de velhas ânforas
que um dia deram de beber aos lábios)
Sandra Costa
quarta-feira, dezembro 24, 2003
o tempo dual*
Hiroshi Sugimoto, Boden Sea, 1993
deseja-lhe uma noite, entre tantas outras noitas,
muito feliz.
Cláudia e Sandra
p.s. - as prendas só se abrem depois da meia noite, não é?
p.p.s. - e algumas podem ser abertas depois, não podem?
Hiroshi Sugimoto, Boden Sea, 1993
deseja-lhe uma noite, entre tantas outras noitas,
muito feliz.
Cláudia e Sandra
p.s. - as prendas só se abrem depois da meia noite, não é?
p.p.s. - e algumas podem ser abertas depois, não podem?
domingo, dezembro 21, 2003
denúncia*
não queria desencontrar-me do tempo
da poesia das estações desocupadas e suspensas
sobre um banco de jardim
não queria demorar-me de nomes
de melancolia das súbitas e desatinadas sombras
que com a tarde desaparecem assim
não queria denunciar-me de morte
de amor das promessas desarrumadas e sedentas
à espera do medo à espera de um fim
não queria desencontrar-me do tempo
da poesia das estações desocupadas e suspensas
sobre um banco de jardim
não queria demorar-me de nomes
de melancolia das súbitas e desatinadas sombras
que com a tarde desaparecem assim
não queria denunciar-me de morte
de amor das promessas desarrumadas e sedentas
à espera do medo à espera de um fim
Aos leitores deste blog! A v/ atenção!*
Aos leitores deste blog gostaria de fazer um pedido/desafio: que cada um depositasse (em forma de respostas a esta mensagem) uma palavra de que goste muito na caixa de comentários. Apenas isso. O porquê?... Depois saberão. (Quem me conhece de outras andanças saberá do que falo mas não estraguem a surpresa) Ah! Por favor, identifiquem-se nas respectivas respostas. Obrigada.
Sandra (um_Sol/ boticelli)
Aos leitores deste blog gostaria de fazer um pedido/desafio: que cada um depositasse (em forma de respostas a esta mensagem) uma palavra de que goste muito na caixa de comentários. Apenas isso. O porquê?... Depois saberão. (Quem me conhece de outras andanças saberá do que falo mas não estraguem a surpresa) Ah! Por favor, identifiquem-se nas respectivas respostas. Obrigada.
Sandra (um_Sol/ boticelli)