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sábado, setembro 27, 2003

em dia que não posso sair de casa*
Jimmy Scott e Bau andam por aí. O primeiro não está (ainda) entre os meus afectos. Já lhe ouvi alguma coisa mas não consegui interiorizá-lo. No entanto, sei de quem acha que, esta vinda dele ao Porto, é uma oportunidade imperdível. Assim sendo, aqui fica a referência. Bau sim, o 'menino do cavaquinho e do violino' está no meu coração desde que o ouvi num Dezembro que já ficou para trás. Quem puder, não perca. Desta vez, sou eu a dizê-lo.

sexta-feira, setembro 26, 2003

>º<*
é qualquer coisa como isto:

Pode existir uma escrita. E, mesmo que exista um dia como facto, poderei nunca saber bem a razão da sua existência nas minhas mãos.
Vincent Bengelsdorff


quinta-feira, setembro 25, 2003

ontem*
com um embaraço de atraso, com os beijos, para a menina.


Paul Klee, Dream City


sosseguem os molhos de braços tontos
num colo mais terno

sosseguem de lutas desprotegidas
de abraços partidos
de horas rasgadas
no ar
de encaixes violentos na volta dos
corpos

que se abram e acometam de pétalas
os dedos

dos pulsos de verde quebranto
se ofereçam as flores
possíveis
nestes troncos que te estendo

e se firmem no tempo como pedras


quarta-feira, setembro 24, 2003

urze*
ainda a tempo.

à vista desarmada,
os poemas arrumados
nas prateleiras,
as noites de Setembro
perdem a urze,
ainda que os montes
escureçam em flor

[de um poema caído
no chão]

terça-feira, setembro 23, 2003

[o tesouro de agosto foi este livro, por razões várias...]*
Abriguei-me onde mais aflorou o teu instinto; cobri-me com a distância que me cercava, me acercava de ti, e ressalvei das palavras esse corpo que não atingi, que nunca atingirei.
Por de mais, por demasiadas coisas, eu haveria de ferir-te à profundidade que nada esclarece mas tudo pressagia. Haveria de ferir-te -- é isso --, mas guardarei de ti outra ferida e outro bálsamo. Não discutirei a morte sem, de novo, te tocar; sem reduzir o infinito a nenhuma lágrima. Da morte pouco sei, como pouco sei de ti; sei de mim em ti, sempre o soube (ainda as minhas mãos se não tinham confundido com os teus olhos), e essa foi uma razão de não saber amar-te, de não poder chegar seguro onde a tua nudez me desabrigou e fez tiritar diante do meu corpo, como num espelho de água. Ouve-me agora, quando ao falar de ti me reconheço; ouve-me ainda quando, por nunca ter sabido dar, já não recuso.
Não quero justificar-me: tu não merecerias tanta culpa.
Vou onde não saberei de ti. E continuarei até onde, de nós, repetirei o impossível.


Joaquim Pessoa, Fly, Litexa Portugal 1983


fulutchin*
sempre que os oiço, entre outras coisas, penso porra pá!, tenho de escrever qualquer sobre eles lá no blog (é esta mania do serviço público, não sei), depois perde-se a ocasião, que é como quem diz, vence a preguiça.
foi assim de novo ontem à noite.
parte do problema prende-se com o não me achar muito capaz de falar no assunto, afinal não percebo nada de música. serei facilmente impressionável. e que dizer se não isso? que estes tipos, este trio barulhento, sempre me impressionam? e porque não? é tal e qual. estou desconfiada que são mesmo bons, mas dos bons mesmo. azar de quem os perdeu, à  borla (ser bom não é o mesmo que encher estádios, às vezes até pode ser, mas...), na praça do giraldo (évora), no passado domingo. os senhores gregg moore (americano), umas vezes no baixo, outras vezes na tuba; rui gonçalves (português), numa bateria que não acaba nunca; e alípio carvalho neto (brasileiro), umas vezes num saxofone, outras vezes noutro, outra vez ainda em ambos e lá pelo meio a sua voz lançada de um megafone. e se fosse só o talento, mas não é só, eles têm piada, sentido de humor mesmo, raro não?
algumas pessoas não suportaram aquilo e viram-se forçadas a retirar-se, talvez esperassem qualquer outra coisa mais comportadinha. foi o caso de duas senhoras de cabelo armado que se levantaram aos primeiros (des)acordes de uma construção que os fulutchin fizeram de uma das mais aclamadas cantiguinhas da música popular portuguesa... sim, porque eles vão a todas, não é só thelonious monk. falava de uma versão de "ao passar a ribeirinha", segundo o alí­pio, estrutura que permite paralelismos ao haiku japonês (foi aqui que a coisa estremeceu, as senhoras olharam uma para a outra com ar desconfiado. haiku?! japonês?! que maluquice, então não era dos açores?), e realmente... ora veja-se:

ao passar a ribeirinha
pus o pé
molhei a meia


não está mal pensado, não senhor.

queria, já que falo neles, dar um nome ao que fazem. é jazz, com certeza, mas posso dizer que é free jazz? pelo menos, acho que "também" pode ser isso. posso dizer que é world music ou coisa que o valha? também tem que ser um bocado disso. mas deve ser ainda uma outra coisa, como convém ao que nos seduz -- sempre uma outra coisa, que escape, que fuja, mas sempre dentro da nossa mira, que nos tente e provoque e que nos faça vibrar, mesmo que não saibamos onde exactamente no centro de nós atinge, ou como aí segurá-la. e de que adianta nomear e catalogar tudo? talvez ainda me encha de coragem e resolva perguntar aos próprios, tão perto que eles estão... suspeito que ririam da pergunta.

seja como for a minha parte já está feita, eu já avisei, vale a pena dar-lhes ouvido, vale muito a pena. é pecado deixar escapar. um trio de mão cheia.



encontrei esta foto do gregg -- a net é este reservatório imenso.

segunda-feira, setembro 22, 2003

vindimas*

se só as uvas caíssem ao chão
em Setembro não precisaria do silêncio
para descansar os braços

domingo, setembro 21, 2003

nomear os medos*

nomear os medos

abrir a gaveta onde encerraste
os deuses como se fossem folhas
de papel em branco, por estrear
os credos e as súplicas

corrigir a arrumação da casa
pelo desequí­librio dos afectos,
um sapato debaixo da cama
implica-te significados
e talvez um poema

abrir a noite
quando os relâmpagos estalam
nos teus olhos, saberão
as pálpebras apagar o fogo

e dizer-te das estátuas,
que o mármore não me revela
nem o jardim onde estendo
os silêncios e que só nos fragmentos
que sobraram das almas esculpidas
poderás decifrar o que sempre
te disse

nomear os medos
nomear os medos

dualidades mí­nimas #25

chove sobre as palavras e o amor

indispensável arrancar do mundo
todas as estátuas    cresçam os medos

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