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quarta-feira, dezembro 29, 2004

o tempo dual*



deseja-lhe um excelente 2005.

Infelizmente, foi-nos impossível concluir o desafio de Natal ainda em 2004. Deixamos, assim, para o novo ano, as 17 ou 18 palavras que faltam. Obrigada por tudo.


Cláudia, Nicolau e Sandra

terça-feira, dezembro 28, 2004

prenda de Natal para Concha*

mar

procurar sempre o mar ao fundo
como consolo ou como esperança

entrar pela terra adentro sem esquecer
que a onda tudo leva tudo comporta
basta que cresça na justa medida do mar
que por capricho a doma e deixa morrer
leve na praia


Cláudia Caetano

prenda de Natal para o vhm*

disforia

Crês na melancolia como se
acreditasses em males longínquos:
se aproximas uma vela do corpo
estranho da noite, de súbito
descobres o segredo do mundo.


Sandra Costa

prenda de Natal para aanaa*

plano

o chão liso da casa iluminada
o parapeito da janela onde se pousa o livro
um poema de Sophia murmurado na esplanada
o mar de um Verão acontecido


Sandra Costa

prenda de Natal para o Alexandre*

abismo

deter os olhos
por um momento
num qualquer é abismo
é renunciar ao sossego e é ser-lhe afeito

é ver mistérios de escuro sem fim a cada anoitecer
é respirar a queda a cada promontório
adivinhar o vórtice a cada olhar em volta


Cláudia Caetano

prenda de Natal para a Paula*

rio

em redor árvores de raízes escondidas
na terra escondida nas ervas de muitos verdes

aos meus pés um rio
       que se vejam os peixes
       e as pedras no fundo
       que seja fresca a água na cara
       e alegre a corrente nas mãos

que a navegação se faça sempre a favor


Cláudia Caetano

prenda de Natal para a margarete*

acknowledgment

reconheces o medo na nudez
das árvores mas entreabrem-se
mistérios se um só pássaro
regressa à tua janela


Sandra Costa

prenda de Natal para Ferran*

andorinha

nidificar na tua axila como aprendi
à andorinha fiel ao beiral do
telhado

saberás tu que as ausências não são
mais que regressos a tempo pré-determinado
e que as estações são do ano como da vida
e são feitas de ciclos de renovação onde a cada
vez o amor como nunca antes


Cláudia Caetano

prenda de Natal para o Rui Amaral*

cidade

E ele pensou: hoje serei uma cidade
e depois serei uma árvore nessa cidade
e depois ainda um esquecimento
numa rua e num recanto de um pátio.

E quando essa cidade tiver figuras
de pessoas e de animais
pôr-lhe-ei ainda mais figuras
que se olharão entre elas e se reconhecerão

E desaparecerão pouco a pouco

para que fique apenas uma amargura
e muitos risos desconhecidos


Nicolau Saião

prenda de Natal para a Manuela*

cirandar

não separes o trigo do joio
a árvore da sombra
o canto do silêncio

faz do rio a margem
do fim o começo

inicia a dança


Sandra Costa

prenda de Natal para o jpn*

escurifica

abranda a luz pelos contornos
no lusco-fusco

e é como se o entardecer
trouxesse poemas obscuros ao pescoço
para que quando se instale a noite
se desarmem os homens e aí
onde a luz se nega se cumpram os corpos


Cláudia Caetano

prenda de Natal para a Ana*

madrugada

No interior a polpa: um nó convulsamente
preso na carne feita para amar
No exterior partículas
tão exactas e puras como um dia. No depois das paredes
nesse ar que se dissipa
nesse negrume fixo e já disperso
- para sempre encontrado -
o clarão que nos une e já nos leva
entre as horas e os tempos, entre vozes que findam.

A cor o mundo o nome
eternamente nossos.


Nicolau Saião

prenda de Natal para a Carla de Elsinore*

luz

sobre as pálpebras como sobre
as casas como sobre a névoa

nuvens claras sobre os cumes
penas que começam na escuridão

um pé sobre a terra        como deuses
o lado branco dos regressos        os espelhos

a água        a solidão


Sandra Costa

prenda de Natal para o Vasco*

matiz

combina-se assim o inquieto
mundo: perdendo azuis
onde sobra o medo
        crescendo magnólias
        onde desaparece a neve


Sandra Costa

prenda de Natal para o ZM*

alma

Aí onde nascem os teus olhos

onde se pressentem pássaros cobrindo
os céus de escassas sombras
onde os salgueiros tocam as águas
e as noites brilham como os musgos

Aí nascem os teus olhos
e a matéria do silêncio


Sandra Costa

prenda de Natal para o António*

água

De corpo
Onde acabas e recomeças
De terra
Onde é teu o perfil incompleto
De fogo e ar
Onde exultas e te revolves
Do que dentro existe e cessa
Do que de fora brota

Daquilo que nunca te encontrará
Do que é pequeno e amplia o mundo
Do que jamais se perdeu

Do que se sabe e repousa
Do que não se encontrou

Do que morre
Do que é silêncio e claridade
Do que é mais que um sangue

Um puro momento feito
Entre ti e o teu reflexo inerte.


Nicolau Saião

prenda de Natal para a lebre*

algoão doce

preparemos a intimidade a partir do
algodão-doce
partilhando-nos

que se quer muito fofo e suave
tomado aos poucos enquanto se
caminha sem direcção outra que
a do jardim mais próximo

que se quer de doçuras
desfeitas na boca de cantos
açucarados


Cláudia Caetano

prenda de Natal para o Luís*

terra

Enterra as mãos em chãos
de tojos e de lírios
para que (me) digas com os
lábios o que sabes das
profundezas.


Sandra Costa

prenda de Natal para o Paulo*

riso-de-mar

Cobres os pulsos de algas
e de espuma para que nas histórias
de meninos e de búzios
os risos se façam de mar.


Sandra Costa

segunda-feira, dezembro 27, 2004

prenda de Natal para a at*

sombra

seja menos sol nas coisas
seja a luz transviada em ricochetes perdidos
seja um escuro pouco breu

um escuro como a noite que cresce de sombra
quando chegas em inclinações
sobre mim


Cláudia Caetano

prenda de Natal para Tecum*

ternura

Todas as paisagens nos teus olhos
me parecem nuvens

cobrindo horizontes de certas cores
que só existem dentro do silêncio.


Sandra Costa

prenda de Natal para a Maria*

resistência

Não apenas a música
mas o som
o ruído que envolve
o oculto grito

Não o nome somente
mas vestígio
o timbre recordado de seu
espaço

Não apenas figura
mas silêncio
silhueta ou contorno
na memória

Não o medo ou o azougue
sobre esta carne morta

Mas um vívido traço
ainda que incompleto

Mas singeleza como
um corpo inconformado.


Nicolau Saião

domingo, dezembro 26, 2004

amanhã ou depois*

entregamos as restantes prendas, está bem?
Não se esqueçam que as magnólias estão a florir.

prenda de Natal para a Jonas e tafan*

voar

Não o vôo mas a
sombra
O sinal posto sobre o ar
a dor do vento naquela voz
que cresce
nessas nuvens perdendo-se na terra.
Não a
súbita asa de um
rosto
erguido entre árvores
e montes
como figuras agora contra o tempo
que adeja sobre os ramos
- essa febre como uma chuva errante –
mão que não paira
mas se recorda e vibra
num esvoaçar
tenaz

Ave posta no mundo
- sua serena hora -
e agora já na lonjura

perdida e solitária.


Nicolau Saião

prenda de Natal para a m.*

serendipity

acidentalmente os meus passos nos teus
hábitos
a minha proverbial distracção nos teus
dias

é entrar na loja para comprar aquilo que
logo se esquece em troca do que se imaginava

encontrar não procurando


Cláudia Caetano

prenda de Natal para o A.*

violoncelo

o arco tenso sobre as quatro cordas
e assim retocado o princípio do mundo

como se de abandono em abandono
gravemente se cobrissem as noites
das palavras mais simples


Sandra Costa

prenda de Natal para a Amélia*

cristal

se no copo de cristal deitar
a mais pura água
poderá parecer que o copo permanece
vazio
por saber fica
se é mais transparente o copo ou a água
se nos teus olhos um cristal que ora brilha
ora deixa ver o mais fundo de ti
ou se água de muitas lágrimas luminosas


Cláudia Caetano

prenda de Natal para a Raquel*

polpa

dos dedos dos frutos
das incertezas que abrem as noites
ao que podia ser o medo
da penumbra da língua
das palavras que quebram os abandonos
e permitem o sagrado o silêncio
as sucessivas luas


Sandra Costa

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