sábado, fevereiro 12, 2005
continuem a não (me) levar a sério*
Address to an Absent Lover
The boy speaks in Russian (I understand him neither in the dream nor in real life). He opens his eyes and looks at me, apologizing in English for keeping them closed.
When I wake up I think he must have seen me. But when I kiss him he looks surprised, as if he were blind.
The night I met you I wrote It is possible I have imagined my entire life.
Sarah Manguso
Exercício #1.1
Para um Amante Ausente
O rapaz fala em russo (nem no sonho nem na vida real o compreendo). Ele abre os olhos e olha para mim, pedindo desculpa em inglês por mantê-los fechados.
Quando acordo penso que ele me deve ter visto. Mas quando o beijo ele mostra-se surpreendido, como se fosse cego.
Na noite em que te encontrei escrevi É possível que tenha imaginado toda a minha vida.
Tradução de Sandra Costa
Address to an Absent Lover
The boy speaks in Russian (I understand him neither in the dream nor in real life). He opens his eyes and looks at me, apologizing in English for keeping them closed.
When I wake up I think he must have seen me. But when I kiss him he looks surprised, as if he were blind.
The night I met you I wrote It is possible I have imagined my entire life.
Sarah Manguso
Exercício #1.1
Para um Amante Ausente
O rapaz fala em russo (nem no sonho nem na vida real o compreendo). Ele abre os olhos e olha para mim, pedindo desculpa em inglês por mantê-los fechados.
Quando acordo penso que ele me deve ter visto. Mas quando o beijo ele mostra-se surpreendido, como se fosse cego.
Na noite em que te encontrei escrevi É possível que tenha imaginado toda a minha vida.
Tradução de Sandra Costa
and a saturday morning sky *
[classificado] colecciono nuvens e árvores
- principalmente magnólias em flor -
troco um céu cinza-silêncio repetido
pela floração prolongada da claridade
Sandra Costa
[classificado] colecciono nuvens e árvores
- principalmente magnólias em flor -
troco um céu cinza-silêncio repetido
pela floração prolongada da claridade
Sandra Costa
One Lonely Afternoon*
One Lonely Afternoon
Since the fern can't go to the sink for a drink of
water, I graciously submit myself to the task, bringing two
glasses from the sink.
And so we sit, the fern and I, sipping water together.
Of course I'm more complex than a fern, full of deep
thoughts as I am. But I lay this aside for the easy company
of an afternoon friendship.
I don't mind sipping water with a fern, even though,
had I my druthers, I'd be speeding through the sky for
Stockholm, sipping a bloody mary with a wedge of lime.
And so we sit one lonely afternoon sipping water
together. The fern looking out of its fronds, and I, looking
out of mine . . .
Russell Edson
Exercício #5
Uma tarde solitária
Uma vez que o feto não pode ir até à pia beber
água, atenciosamente submeti-me a essa tarefa, trazendo dois
copos da pia.
Assim sentamo-nos os dois, o feto e eu, bebericando água juntos.
Claro que eu sou mais complexo que um feto, tão cheio de profundos
pensamentos como sou. Mas ponho isto de lado pela companhia fácil
de uma tarde de amizade.
Eu não me importo de bebericar água com um feto, embora,
se me dessem a escolher, estivesse a percorrer velozmente o céu até
Estocolmo, bebericando um bloody mary com uma rodela de lima.
Assim sentamo-nos numa tarde solitária bebericando água
juntos. O feto cuidando das suas folhas, e eu, cuidando
das minhas...
Tradução de Sandra Costa
One Lonely Afternoon
Since the fern can't go to the sink for a drink of
water, I graciously submit myself to the task, bringing two
glasses from the sink.
And so we sit, the fern and I, sipping water together.
Of course I'm more complex than a fern, full of deep
thoughts as I am. But I lay this aside for the easy company
of an afternoon friendship.
I don't mind sipping water with a fern, even though,
had I my druthers, I'd be speeding through the sky for
Stockholm, sipping a bloody mary with a wedge of lime.
And so we sit one lonely afternoon sipping water
together. The fern looking out of its fronds, and I, looking
out of mine . . .
Russell Edson
Exercício #5
Uma tarde solitária
Uma vez que o feto não pode ir até à pia beber
água, atenciosamente submeti-me a essa tarefa, trazendo dois
copos da pia.
Assim sentamo-nos os dois, o feto e eu, bebericando água juntos.
Claro que eu sou mais complexo que um feto, tão cheio de profundos
pensamentos como sou. Mas ponho isto de lado pela companhia fácil
de uma tarde de amizade.
Eu não me importo de bebericar água com um feto, embora,
se me dessem a escolher, estivesse a percorrer velozmente o céu até
Estocolmo, bebericando um bloody mary com uma rodela de lima.
Assim sentamo-nos numa tarde solitária bebericando água
juntos. O feto cuidando das suas folhas, e eu, cuidando
das minhas...
Tradução de Sandra Costa
quinta-feira, fevereiro 10, 2005
dualidades mínimas #61
ficar quando tudo passa
esperando os ciclos das flores
não há renovação sem sementes
cláudia caetano
ficar quando tudo passa
esperando os ciclos das flores
não há renovação sem sementes
cláudia caetano
terça-feira, fevereiro 08, 2005
ainda é carnaval*
A Journey Through The Moonlight
In sleep when an old man's body is no longer
aware of his boundaries, and lies flattened by
gravity like a mere of wax in its bed . . . It drips
down to the floor and moves there like a tear down a
cheek . . . Under the back door into the silver meadow,
like a pool of sperm, frosty under the moon, as if in
his first nature, boneless and absurd.
The moon lifts him up into its white field, a cloud
shaped like an old man, porous with stars.
He floats through high dark branches, a corpse tangled
in a tree on a river.
Russell Edson
Exercício #4
Uma Viagem através do Luar
Durante o sono quando o corpo de um ancião deixa
de conhecer os seus limites e jaz abatido pela
gravidade como um lago de cera na sua cama... Cai
em gotas até ao chão e ali se move como uma lágrima tombando
pelo queixo... Sob a porta das traseiras até ao campo prateado,
como uma bacia de esperma, gelado sob a lua, como se voltasse à
sua primeira essência, invertebrado e absurdo.
A lua leva-o p’lo ar até à sua planície branca, uma nuvem
em forma de homem velho, com poros de estrelas.
Ele flutua através dos negros ramos altos, um cadáver emaranhado
numa árvore à beira do rio.
Tradução de Nicolau Saião
A Journey Through The Moonlight
In sleep when an old man's body is no longer
aware of his boundaries, and lies flattened by
gravity like a mere of wax in its bed . . . It drips
down to the floor and moves there like a tear down a
cheek . . . Under the back door into the silver meadow,
like a pool of sperm, frosty under the moon, as if in
his first nature, boneless and absurd.
The moon lifts him up into its white field, a cloud
shaped like an old man, porous with stars.
He floats through high dark branches, a corpse tangled
in a tree on a river.
Russell Edson
Exercício #4
Uma Viagem através do Luar
Durante o sono quando o corpo de um ancião deixa
de conhecer os seus limites e jaz abatido pela
gravidade como um lago de cera na sua cama... Cai
em gotas até ao chão e ali se move como uma lágrima tombando
pelo queixo... Sob a porta das traseiras até ao campo prateado,
como uma bacia de esperma, gelado sob a lua, como se voltasse à
sua primeira essência, invertebrado e absurdo.
A lua leva-o p’lo ar até à sua planície branca, uma nuvem
em forma de homem velho, com poros de estrelas.
Ele flutua através dos negros ramos altos, um cadáver emaranhado
numa árvore à beira do rio.
Tradução de Nicolau Saião
domingo, fevereiro 06, 2005
bom carnaval*
Exercício #3
As Marionetas dos Mestres Distantes
Um pianista sonha que é contratado por um empresa de demolição para
destruir um piano com os seus dedos...
No dia do concerto da demolição do piano, enquanto se está
a vestir, ele repara numa borboleta a aborrecer uma flor na floreira
da sua janela. Pergunta-se se a polícia deve ser chamada. Então ele pensa
talvez a borboleta seja apenas uma marioneta que está a ser manipulada pelo
seu mestre a partir da janela de cima.
Subitamente tudo é belo. Ele começa a chorar.
Então outra borboleta começa a aborrecer a primeira borboleta.
Pergunta-se de novo se não deve chamar a polícia.
Mas, serão elas talvez borboletas-marionetas? Ele pensa
que são, pertencem a mestres rivais observando qual borboleta consegue
aborrecer mais a do outro.
E isto está a acontecer na floreira da sua janela. O Plano
Cósmico: Mestres Distantes manipulando Mestres menores que, por sua vez,
estão a manipular minúsculas borboletas-Mestras que, por sua vez, estão
a manipulá-lo... Um universo tecido com cordas!
Subitamente tudo é tão belo; a luz é estranha...
Há algo na luz! Ele começa a chorar...
Russell Edson
Exercício #3
As Marionetas dos Mestres Distantes
Um pianista sonha que é contratado por um empresa de demolição para
destruir um piano com os seus dedos...
No dia do concerto da demolição do piano, enquanto se está
a vestir, ele repara numa borboleta a aborrecer uma flor na floreira
da sua janela. Pergunta-se se a polícia deve ser chamada. Então ele pensa
talvez a borboleta seja apenas uma marioneta que está a ser manipulada pelo
seu mestre a partir da janela de cima.
Subitamente tudo é belo. Ele começa a chorar.
Então outra borboleta começa a aborrecer a primeira borboleta.
Pergunta-se de novo se não deve chamar a polícia.
Mas, serão elas talvez borboletas-marionetas? Ele pensa
que são, pertencem a mestres rivais observando qual borboleta consegue
aborrecer mais a do outro.
E isto está a acontecer na floreira da sua janela. O Plano
Cósmico: Mestres Distantes manipulando Mestres menores que, por sua vez,
estão a manipular minúsculas borboletas-Mestras que, por sua vez, estão
a manipulá-lo... Um universo tecido com cordas!
Subitamente tudo é tão belo; a luz é estranha...
Há algo na luz! Ele começa a chorar...
Russell Edson