sábado, agosto 30, 2003
não quero*
não quero escrever o nada
o que não faça profundamente
sentido
escrevo o silêncio
para me manter à superfície
do mundo
não quero escrever o nada
o que não faça profundamente
sentido
escrevo o silêncio
para me manter à superfície
do mundo
sexta-feira, agosto 29, 2003
os contadores de histórias*
Quando os poemas
se aproximam de Setembro,
é costume os contadores de histórias
descerem à cidade para apanhar
os bocados de tarde que os dias
perdem junto ao mar.
Quando os poemas
se aproximam de Setembro,
é costume os contadores de histórias
descerem à cidade para apanhar
os bocados de tarde que os dias
perdem junto ao mar.
quinta-feira, agosto 28, 2003
alguns blogs por onde anda a poesia #5*
-- tracejado --
A Natureza do Mal
aqui não há poeta
Campo de Afectos**
cometas**
Linha de Cabotagem
little black spot
Lugar da incerteza
Modus Vivendi
No Arame
Outro Lado da Lua
Palavras & Letras
rain song
Ruialme
um desejo de nada
[**novidades e resumo]
-- tracejado --
A Natureza do Mal
aqui não há poeta
Campo de Afectos**
cometas**
Linha de Cabotagem
little black spot
Lugar da incerteza
Modus Vivendi
No Arame
Outro Lado da Lua
Palavras & Letras
rain song
Ruialme
um desejo de nada
[**novidades e resumo]
the perfect blue*
for lazuli.
Gustav Klimt
for lazuli.
Gustav Klimt
if I were blue*
de Patricia Barber [ouvir] para o outro lado da lua, ainda que não, mas obrigada.
If I Were Blue
if I were blue
like David Hockney's pool
dive into me and glide
under a California sky
inside your moyth and nose and eyes am I
if I were blue
like Edward Hopper's afternoon
lift the sash to air the breeze
let my summer flush your cheek
lie supine beneath the soft and gentle season
would that this were that
this is more like black
dark as darkest indigo
sickly sweet and ripe
like nothing
smothering light
bring on the pelting rain
palpable sensual pain
like Goya in his studio
in the thick of night
absence is
dull and silent
if I were blue
a pale Picasso blue
as beauty is to sorrow
let me cover you in sleep
and in your melancholy
I would give you peace
if I were blue
Patricia Barber
de Patricia Barber [ouvir] para o outro lado da lua, ainda que não, mas obrigada.
If I Were Blue
if I were blue
like David Hockney's pool
dive into me and glide
under a California sky
inside your moyth and nose and eyes am I
if I were blue
like Edward Hopper's afternoon
lift the sash to air the breeze
let my summer flush your cheek
lie supine beneath the soft and gentle season
would that this were that
this is more like black
dark as darkest indigo
sickly sweet and ripe
like nothing
smothering light
bring on the pelting rain
palpable sensual pain
like Goya in his studio
in the thick of night
absence is
dull and silent
if I were blue
a pale Picasso blue
as beauty is to sorrow
let me cover you in sleep
and in your melancholy
I would give you peace
if I were blue
Patricia Barber
sulco*
queria caminhar à chuva
até ao interior da terra
como um sulco
e na escuridão profunda
no início das fontes
na ausência dos nomes
depositar esta outra água
que me acompanha
queria caminhar à chuva
até ao interior da terra
como um sulco
e na escuridão profunda
no início das fontes
na ausência dos nomes
depositar esta outra água
que me acompanha
quarta-feira, agosto 27, 2003
transparência*
Do outro lado da cortina:
as nuvens e o azul, o balouçar
dos braços mais altos das árvores,
um cabo onde nenhum pássaro
perde o voo.
Tão transparentes
as paredes da solidão.
Do outro lado da cortina:
as nuvens e o azul, o balouçar
dos braços mais altos das árvores,
um cabo onde nenhum pássaro
perde o voo.
Tão transparentes
as paredes da solidão.
modus vivendi de regresso*
«O ideal, tão longínquo quanto motivador: “Ser como o promontório contra o qual batem as ondas sem interrupção, que se mantém firme e em volta do qual adormece a espuma das vagas”. [Marco Aurélio]» (Ana Roque)
«O ideal, tão longínquo quanto motivador: “Ser como o promontório contra o qual batem as ondas sem interrupção, que se mantém firme e em volta do qual adormece a espuma das vagas”. [Marco Aurélio]» (Ana Roque)
dos girassóis e de marte*
Nenhum outro motivo senão o de anular o azul
e converter o amor à sua mortalidade.
Nenhum outro motivo senão o de anular o azul
e converter o amor à sua mortalidade.
casulo aonde voltar*
Passara um dia apenas desde a última vez que ele lhe falara e queria escrever-lhe como nunca o tinha feito. Num ápice, ter o fôlego de mil guelras e conseguir resgatar todo o silêncio do mundo numa história que lhe contaria ao ouvido como todas as histórias de entontecer devem ser contadas. Mas nas coisas repentinas moram as árvores por florir e ela sabia que nem ao fundo do tanque do seu quintal tinha chegado com as mil guelras quanto mais ao fundo do mar onde reside o silêncio todo. Escreveu-lhe da única forma que sabia, com os sentidos a caminho da tarde, como borboletas sem casulo aonde voltar.
Passara um dia apenas desde a última vez que ele lhe falara e queria escrever-lhe como nunca o tinha feito. Num ápice, ter o fôlego de mil guelras e conseguir resgatar todo o silêncio do mundo numa história que lhe contaria ao ouvido como todas as histórias de entontecer devem ser contadas. Mas nas coisas repentinas moram as árvores por florir e ela sabia que nem ao fundo do tanque do seu quintal tinha chegado com as mil guelras quanto mais ao fundo do mar onde reside o silêncio todo. Escreveu-lhe da única forma que sabia, com os sentidos a caminho da tarde, como borboletas sem casulo aonde voltar.
terça-feira, agosto 26, 2003
dualidades mínimas #23
encostada à ombreira do crepúsculo
de ontem, sem pressas, espero por ti:
construo poemas que me encontram
encostada à ombreira do crepúsculo
de ontem, sem pressas, espero por ti:
construo poemas que me encontram
gumes escondidos entre as corolas*
[...] Se houve mais histórias? Sim, houve outra, mas a essa cortei-lhe a imaginação pela raíz. Intrigado? Autor que se preze não deve ser históricida? Tens razão, mas esta outra história era tudo menos minha e condicionava o sol a estrela distante, quando ele já tinha sido húmus, matéria onde estremeceram os poemas. Uso linguagem demasiado figurada, de facto. Digamos, digo-te eu, que é uma forma de proteger as palavras ou de me proteger das palavras, porque sou das que acreditam que elas têm gumes escondidos entre as corolas, mesmo que as colhas já murchas de tanto uso.
[...] Se houve mais histórias? Sim, houve outra, mas a essa cortei-lhe a imaginação pela raíz. Intrigado? Autor que se preze não deve ser históricida? Tens razão, mas esta outra história era tudo menos minha e condicionava o sol a estrela distante, quando ele já tinha sido húmus, matéria onde estremeceram os poemas. Uso linguagem demasiado figurada, de facto. Digamos, digo-te eu, que é uma forma de proteger as palavras ou de me proteger das palavras, porque sou das que acreditam que elas têm gumes escondidos entre as corolas, mesmo que as colhas já murchas de tanto uso.
segunda-feira, agosto 25, 2003
magnólias no tempo das uvas*
Se acreditasse no meu nome
teria ao pé de mim uma escada
de madeira como as das vindimas
para colher magnólias no tempo
das uvas e assim poder mostrar-te
Setembro quando quisesse.
Se acreditasse no meu nome
teria ao pé de mim uma escada
de madeira como as das vindimas
para colher magnólias no tempo
das uvas e assim poder mostrar-te
Setembro quando quisesse.
dualidades mínimas #22
na espessura deste tempo
arrastado determino ventos
horizontes doridos varridos de ti
na espessura deste tempo
arrastado determino ventos
horizontes doridos varridos de ti
o que permanecerá*
Volto às histórias? Sei, de repente, elas deixaram de ter importância porque o que permanecerá não são os presságios que ficam dos voos das aves mas o que de improviso se encontra entre duas mãos abraçadas. Volto às histórias, impossíveis então que são as mais fáceis de imaginar, até porque a voz me foge quando como agora te falava e eu não quero ainda parar de te escrever.
Volto às histórias? Sei, de repente, elas deixaram de ter importância porque o que permanecerá não são os presságios que ficam dos voos das aves mas o que de improviso se encontra entre duas mãos abraçadas. Volto às histórias, impossíveis então que são as mais fáceis de imaginar, até porque a voz me foge quando como agora te falava e eu não quero ainda parar de te escrever.
domingo, agosto 24, 2003
deixar por dizer*
[...] Que disseste? Fiquei sem saber se já tinhas lido este, ou não, mas também não importa, tenho uma opinião bem formada sobre David e tu. Se tivesse tempo dissertava-te sobre isso mas repara: há coisas que te quero deixar por dizer, para que as papoilas continuem a florir nas bermas da estrada. Talvez. Talvez esta seja uma das formas de fazer respirar o tempo que sobra entre nós dois.
[...] Que disseste? Fiquei sem saber se já tinhas lido este, ou não, mas também não importa, tenho uma opinião bem formada sobre David e tu. Se tivesse tempo dissertava-te sobre isso mas repara: há coisas que te quero deixar por dizer, para que as papoilas continuem a florir nas bermas da estrada. Talvez. Talvez esta seja uma das formas de fazer respirar o tempo que sobra entre nós dois.
búzio do árctico #3
triptíco
[Hécate]
três rostos tem a noite
ainda que só a tua ausência perdure
[Selene]
três rostos tem a noite
ainda que só a tua ausência perdure
e um silêncio de morte entoe
todos os segredos que habitam a escuridão
como teias desfeitas de amores destroçados.
[Perséfone]
três rostos tem a noite
ainda que só a tua ausência perdure
e um silêncio de morte entoe
todos os segredos que habitam a escuridão
como teias desfeitas de amores destroçados.
deixo os nomes incorruptíveis
- que a noite também morre -
suspensos pelos ramos onde as deusas
estremecem a cada regresso que não
se reveste de eternidade.
....................................................................................
De novo, no ofício de fazer estremecer o silêncio. Aqui e aqui.
triptíco
[Hécate]
três rostos tem a noite
ainda que só a tua ausência perdure
[Selene]
três rostos tem a noite
ainda que só a tua ausência perdure
e um silêncio de morte entoe
todos os segredos que habitam a escuridão
como teias desfeitas de amores destroçados.
[Perséfone]
três rostos tem a noite
ainda que só a tua ausência perdure
e um silêncio de morte entoe
todos os segredos que habitam a escuridão
como teias desfeitas de amores destroçados.
deixo os nomes incorruptíveis
- que a noite também morre -
suspensos pelos ramos onde as deusas
estremecem a cada regresso que não
se reveste de eternidade.
....................................................................................
De novo, no ofício de fazer estremecer o silêncio. Aqui e aqui.
imagias #5
P. S. Krøyer, Tarde de Verão na praia e Tarde de Verão em Skagen
- o que se depreende de tudo isto? que também o amor
tem um tempo de declínio? que o devo deixar terminar
como findam estas tardes sobre a praia e os nossos vestidos,
em mil sonatas de azuis e amarelos? que lhe devo dar,
assim, um lugar como este sem atoardas nem ressentimentos
e onde sabemos que a luz estremece para além da surdina
do pincel?
- e se eu não regresso deste desmoronar de fim de tarde
arrancado a Skagen?
Agradeço ao Abrupto ter-me dado a conhecer a luz de Skagen.
P. S. Krøyer, Tarde de Verão na praia e Tarde de Verão em Skagen
- o que se depreende de tudo isto? que também o amor
tem um tempo de declínio? que o devo deixar terminar
como findam estas tardes sobre a praia e os nossos vestidos,
em mil sonatas de azuis e amarelos? que lhe devo dar,
assim, um lugar como este sem atoardas nem ressentimentos
e onde sabemos que a luz estremece para além da surdina
do pincel?
- e se eu não regresso deste desmoronar de fim de tarde
arrancado a Skagen?
Agradeço ao Abrupto ter-me dado a conhecer a luz de Skagen.
o fio da meada*
Eu sei, parece-te que perdi o fio à meada, mas não. Tive de fazer parágrafo porque a pergunta pedia-me que te olhasse nos olhos e sabes que me perco sempre em qualquer dos lugares onde guardas a ternura.
Eu sei, parece-te que perdi o fio à meada, mas não. Tive de fazer parágrafo porque a pergunta pedia-me que te olhasse nos olhos e sabes que me perco sempre em qualquer dos lugares onde guardas a ternura.
domingo, hora da salada de frutas*
decidir o que fazer primeiro: blogagem mínima, continuar o trabalho para o mestrado ou esparramar-me em cima da cama a fazer de conta que vejo televisão?
p.s. - parece que a indecisão já passou.
decidir o que fazer primeiro: blogagem mínima, continuar o trabalho para o mestrado ou esparramar-me em cima da cama a fazer de conta que vejo televisão?
p.s. - parece que a indecisão já passou.