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sexta-feira, maio 07, 2004

dualidades mí­nimas #44

é o cheiro ou sabor reconhecível
de um outro tempo escuro outro
silêncio cortado na garganta— é o medo


cláudia caetano

quinta-feira, maio 06, 2004

na caixa do correio*

maresias (I)

a turma dos doidos chega ao lugarejo
grávidos, iniciados, veteranos, bêbedos, sabáticos, mundanos
xistos, poetas, camas
promessas a lançar os pássaros
na pressa exacta
que há no mar
de cada um.


Nuno Trinta de Sá

in "quatro poetas numa garrafa à deriva no atlântico", com Fernando Grade, m. parissy e Nuno Rebocho, Europress, Cascais, 2004.

enviado por Nuno Trinta de Sá

lançamento*

LIVRO DE RUY VENTURA
EDITADO EM ESPANHA É LANÇADO EM BADAJOZ

Foi lançada, no passado dia 4 de Maio, em Badajoz, a mais recente colectânea poética de Ruy Ventura, intitulada “um pouco mais sobre a cidade”. O evento ocorreu no bar La Regenta, que patrocinou a edição, na sequência da notória actividade cultural que tem desenvolvido ao longo dos últimos anos na cidade extremenha. O livro, em edição bilingue, está incluído no catálogo das edições Porticus, sediadas na cidade de Villanueva de La Serena (província de Badajoz).
A sessão foi aberta pelo poeta Antonio Reseco González, coordenador da colecção em que este livro se inclui, o qual integrou esta publicação na prática cultural que tem vindo a ser desenvolvida pela Associação Porticus.
A apresentação do volume esteve a cargo do tradutor da obra para castelhano, Antonio Sáez Delgado, poeta e ensaísta hoje presidente da Associação de Escritores Extremenhos, que, na sua intervenção, realçou a centralidade da poesia de Ruy Ventura, “uma poesia de ligação entre a vivência citadina e a vivência campestre, em textos que aliam uma leitura do quotidiano com uma constante busca da transcendência”.
Na sua intervenção, Ruy Ventura realçou o papel das “fronteiras poéticas” na união entre os povos, integrando este seu livro mais recente numa “pesquisa verbal e existencial” iniciada com “Arquitectura do Silêncio”, aprofundada em “Assim se deixa uma casa” e agora concluída, centrada na “interpretação da materialidade do mundo, através dos sentimentos e da memória”.
No final da sessão foram lidos alguns dos poemas do livro, em português e castelhano.
Nascido em Portalegre (1973), Ruy Ventura reside actualmente no concelho de Sesimbra. Este é o seu quinto livro de poesia.

Sónia Correia


enviado por Ruy Ventura

Parabéns*

ao Abrupto.


Ofício de Viver | 6 de Maio de 1938

Há remédio para tudo. Pensa que é a última noite que passas na prisão. Respira, observa a cela, enternece-te com os muros, as barras, a escassa luz que entra pela janela, os rumores que sobem de todos os lados e que, daqui em diante, pertencem a um outro mundo.
Porque te faz pena a cela? Porque se tornou coisa tua. Mas se te dizem bruscamente que foi um erro, que não sairás amanhã, que ficarás não se sabe ainda por quanto tempo, conservarias a calma?

[...]

Cesare Pavese, Ofício de Viver, Relógio d'Água, 2004.

eros #10


Matisse


saio das proporções se isso serve o amor— uma ideia de afectos prolongados
sou os braços longos caindo pelo corpo alcançando tudo— acordando ao toque

roubo espaço ao chão por meio do corpo deitado— uma ideia de sexo imediato
sou só ancas só coxas soltas no movimento de provocar— impondo ritmos

tenho seios redondos e um colo quente para quando me chegas ofegante


cláudia caetano

quarta-feira, maio 05, 2004

incompetência, irresponsabilidade, escândalo, leviandade, irregularidades, anedótico, negligência, $%&#$/&%*

Não há um professor na minha escola que não tenha de fazer reclamação relativamente ao actual concurso dos educadores e professores do ensino básico e secundário. Com a chegada, hoje!, dos verbetes de formulário de candidatura todos os professores pertencentes aos quadros de nomeação definitiva aperceberam-se que, estando correctamente colocados e graduados nas listas provisórias, consta dos seus verbetes não a primeira mas a segunda prioridade a concurso. O que significa isto? Várias coisas: como é possível o mesmo sistema informático produzir dois documentos com informações incompatíveis? qual prevalece - a lista provisória ou o verbete? que formulário de reclamação se preenche se os ditos se referem a "erros detectados nas listas provisórias"? Atrás disto, outras perguntas não me largam: como é possível que se tornem públicas listas de graduação referentes a um novo modelo de concurso sem se testar, isto é, não se faça uma coisa tão simples como pegar numa amostra dos boletins originais, se imprimam as listas e os verbetes respectivos e se faça a correspondente leitura para testar a eficácia do sistema? como é possível que se ache normal existirem 15, 20 ou 40 mil excluídos? como é possível que detectando-se este erro (informático?!) da contradição entre verbetes e listas provisórias não se assuma o dito erro, evitando milhares de reclamações?

Não entendo tamanha incompetência e irresponsabilidade. Eu sei que com a segunda lista provisória a maior parte destes erros vai ser corrigida, o que não consigo aceitar é que isto tenha acontecido. E depois chego a casa, ligo a televisão para tentar perceber se há novidades e tenho só Carlos Cruz nos serviços de informação!

terça-feira, maio 04, 2004

Vou para Pasárgada #2.2.

Informa-se que a partir da análise das reclamações e da informação adicional recebidas a propósito das listas provisórias ontem distribuídas de ordenação e exclusão dos candidatos ao concurso de docentes para 2004-2005, serão elaboradas novas listas que terão ainda carácter provisório, passíveis portanto de novas reclamações . As listas distribuídas em 3 de Maio mantêm-se, como instrumento de trabalho indispensável para o apuramento das novas listas, como é próprio de qualquer lista provisória de concurso. As opções que os candidatos façam de reclamarem ou não das listas ontem distribuídas, não prejudicará a possibilidade de nova reclamação das listas provisórias a distribuir. [DGRHE]

segunda-feira, maio 03, 2004

Vou para Pasárgada #2.1.

Caos nas listas graduadas
Nelson Morais | 03.05.2004

A divulgação das listas ordenadas de graduação tem gerado muitas reclamações nas últimas horas. As primeiras estimativas apontam para vários milhares de professores excluídos das listas de graduados por falta de habilitações.
Em conferência de imprensa, o presidente do Sindicato de Professores da Região Centro (SPRC), Mário Nogueira, afirmou, ao início da tarde de hoje, que os "erros cometidos pelas estruturas do Ministério da Educação ultrapassam tudo o que é possível imaginar". Exigiu, por isso, a sua correcção, bem como a demissão do ministro, David Justino, e da sua equipa.
Segundo o coordenador do SPRC, Mário Nogueira, o número de professores "irregularmente" excluídos do concurso de professores para 2004/2005 pode ser superior a 40 mil, ou seja, cerca de um terço dos candidatos.
Até às 15h00 de hoje, o sindicato tinha contabilizado cerca de 15 mil professores excluídos do concurso, sobretudo por alegada falta de requisitos habilitacionais ou não confirmação das habilitações.
Entre estes excluídos, encontravam-se 2.500 educadores de infância, 7.200 candidatos ao 1º ciclo e cerca de 5.000 de três grupos do 2º ciclo e do ensino secundário (português, português/francês e educação visual). Ao sindicato faltava ainda contabilizar os excluídos nos restantes 38 grupos de docência.
Os candidatos das regiões autónomas foram também excluídos porque, segundo o SPRC, "cumpriram as instruções oficiais para preenchimento dos boletins", ou seja, "não colocaram os códigos de escola, porque estes não cabiam nos espaços disponíveis", afirma Mário Nogueira. Que acrescentou, noutro exemplo do que considerou ser o "caos deste concurso": "todos os professores contratados da EB 2,3 de Oliveira do Hospital foram excluídos".
Mas os casos de erros, segundo os sindicalistas, não parecem obedecer a um critério uniforme definido. Mário Nogueira tem uma graduação profissional de 40 pontos e ficou colocado em nº10.693; a sua colega sindicalista Helena Aracanjo tem uma graduação de 29 pontos e ficou colocado com o número 4056.
O sindicato disse que "há milhares de professores a quem o tempo de serviço não foi contado" e que as notas de alguns professores foram arredondadas, ao contrário das de outros. "Também há professores que aparecem na lista de excluídos e na graduada e outros que não aparecem em lista nenhuma", denunciou Mário Nogueira.
"É evidente que exigimos que estas listas sejam deitadas para o lixo", afirmou o coordenador do SPRC, prevendo atrasos graves no concurso que vão impedir a afixação de listas até 31 de Maio.


Aqui.

Vou para Pasárgada #2

1. As informações recolhidas pela FENPROF e seus Sindicatos, após a divulgação por parte do Ministério da Educação das listas provisórias dos concursos dos educadores e professores dos ensinos básico e secundário, mostram que este ano os erros cometidos pelas estruturas do ME ultrapassam tudo o que é possível imaginar estando a gerar um verdadeiro caos nas escolas e entre os docentes.
Alguns exemplos da inaudita incompetência do Ministério da Educação: a) exclusão de todos os candidatos das Regiões Autónomas cujo único “erro” foi terem cumprido as instruções oficiais para preenchimento dos boletins; b) foram excluídos do concurso mais de 7.200 candidatos do 1º CEB sem razões visíveis; c) o mesmo aconteceu a 2.500 educadores de infância: d) completa subversão da lista ordenada dos candidatos não excluídos por, entre outros motivos, não ter sido considerado o tempo de serviço; e) situação de candidatos cujo nome não consta em nenhuma das 2 listas e de outros que surgem na lista graduada e na lista dos excluídos.


Pode ler-se, por exemplo, aqui.

domingo, maio 02, 2004

eros #9


Fritz Bultman, Tacke on Back


Mostro-te o poema inacabado,
a colher a caminho da boca, o ranger
da porta e o estremecimento da pele,
a nudez de um seio se desapertado mais
um botão da blusa, a intenção do toque
só ao de leve só por acaso, precisamente
a hesitação na voz como a hesitação nos
dedos, que as copas das árvores ondulam
e as ancas também, que a vontade é a de que
as pernas tremam como borboletas até ao
tornozelo, aí onde a luz incide só quando
é rasa só quando é água

Sandra Costa

Blush*



Nunca mais voltarei a acordar...
(numa cama gigante de um quarto de hotel
com vista para a lagoa de Veneza...
ficar à janela...
esticar os braços...
para a água).

Nunca escreverei um livro.
Aprender a tocar piano.

Levar um touro à exaustão numa arena
com o movimento das minhas ancas
sob uma chuva de rosas..
Atravessar Paris, nu, num descapotável.
Pôr uma bandeira no cimo dos Himalaias.
Provocar uma avalanche.

Serrar um corpo em seis bocados
Começando pela perna direita.

Pôr uma rodela de limão na minha língua
E sentir a saliva a crescer.

Nunca mais casar.
O cheiro de um bebé.
A doçura de uma framboesa.
De um lóbulo de orelha.
Da pele entre os dedos.
Da língua
de um perfeito desconhecido
num quarto de hotel
as costas contra a parede, bem alto


____________________

Blush é um espectáculo intensamente físico, podia ler-se no programa e confirmou-se. Físico quase até à exaustão - dos sentidos, dos músculos, da voz, da sensibilidade, da perturbação, da luz que se tranforma em pêndulo, da nudez, do sexo, da provocação - are you a good fuck? O meu corpo quase sempre em tensão (não necessariamente com tesão). Acho que corei uma vez, ao primeiro contacto olho no olho com um dos bailarinos.

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