sábado, maio 29, 2004
dualidades mínimas #47
insuspeito silêncio carregado de
sono feito de luz branda na carne
a noite chega devagar e não parte
cláudia caetano
insuspeito silêncio carregado de
sono feito de luz branda na carne
a noite chega devagar e não parte
cláudia caetano
quinta-feira, maio 27, 2004
Feira do Livro #3*
O Silêncio
O silêncio
acumula-se sobre o Livro
e é, de facto irrelevante a celebração
do pó.
...........
O corpo e a Primavera
Ouço
o corpo
da Primavera.
Na brisa
segura macias flores.
Dir-se-ia o delicioso rubor
dos seios.
Não sei se surgindo
da vergonha
de alguns botões ainda
por abrir.
Terno enredo
o de escutá-lo no sobressalto e despontar
do sexo: sentado
conserva os joelhos apertados
contra o queixo,
furtando-o
a invisíveis e furiosas
abelhas.
Talvez por medo
de que o mel desabe
e o tempo tenha de acolher-se,
abrasado de cio,
na delícia e destreza
de uma ingenuidade em absoluto
efémera.
De que as rosas
breve
percam o engano e o frescor
da voz.
Deixemo-lo, pois, entregue
ao claro som e asseio
do seu respirar.
Eduarda Chiote, A Celebração do Pó, Asa, 2001.
O Silêncio
O silêncio
acumula-se sobre o Livro
e é, de facto irrelevante a celebração
do pó.
...........
O corpo e a Primavera
Ouço
o corpo
da Primavera.
Na brisa
segura macias flores.
Dir-se-ia o delicioso rubor
dos seios.
Não sei se surgindo
da vergonha
de alguns botões ainda
por abrir.
Terno enredo
o de escutá-lo no sobressalto e despontar
do sexo: sentado
conserva os joelhos apertados
contra o queixo,
furtando-o
a invisíveis e furiosas
abelhas.
Talvez por medo
de que o mel desabe
e o tempo tenha de acolher-se,
abrasado de cio,
na delícia e destreza
de uma ingenuidade em absoluto
efémera.
De que as rosas
breve
percam o engano e o frescor
da voz.
Deixemo-lo, pois, entregue
ao claro som e asseio
do seu respirar.
Eduarda Chiote, A Celebração do Pó, Asa, 2001.
quarta-feira, maio 26, 2004
17 Anos Depois*
a mesma alegria de sempre! Hoje, não vou para a baixa
como naquela noite do calcanhar de Madjer mas...
Pooooooorto!
a mesma alegria de sempre! Hoje, não vou para a baixa
como naquela noite do calcanhar de Madjer mas...
Pooooooorto!
Feira do Livro #2*
Persona
O que eu escrevi não é um argumento de um filme no sentido habitual do termo. É algo que se assemelha mais a uma linha melódica que irei orquestrar, assim espero, durante a rodagem com a ajuda dos meus colaboradores. Sinto-me indeciso em relação a numerosos pontos e acontece-me até em determinados momentos não ter a menor ideia do que poderá acontecer. Isto, porque descobri que o assunto por mim escolhido é ele próprio uma imensidão e que a selecção que serei obrigado a fazer das sequências a incluir no filme definitivo (só de pensar nisto fico com calafrios!) não pode deixar de ser necessariamente arbitrária. Por isso eu convoco a fantasia do leitor ou do espectador a fazer uso livre dos elementos que coloco à sua disposição.
I
Penso na película transparente a passar a toda a velocidade através do aparelho de projecção. Virgem de qualquer sinal ou imagem, ela vai permitir ao ecrã reflectir uma luz que crepita. Pelos altifalantes perceberemos apenas o som surdo do amplificador e o leve ruído das partículas de pó que passam pela cabeça de leitura.
A luz estabiliza-se e torna-se mais densa. Sons incoerentes e fragmentos de palavras semelhantes a estalidos breves começam a soltar-se, pouco a pouco, das paredes e do tecto.
Na brancura do ecrã surgem os contornos de uma nuvem, ou talvez seja o reflexo da água, não, é mesmo uma nuvem, ou antes, uma árvore encimada por uma enorme coroa de folhagem, não, é uma paisagem lunar.
O sussurro vai-se amplificando em movimentos ondulatórios e palavras inteiras (incoerentes, longínquas) começam a distinguir-se como sombras de peixes em águas profundas.
Afinal não é uma nuvem, não é uma árvore frondosa, é um rosto cujo olhar fixa o espectador. O rosto de Alma, a enfermeira.
Ingmar Bergman, Lágrimas e Suspiros, seguido de Persona e de Dependência, Assírio Alvim, 2002.
___________
Pensando na Janela Indiscreta.
Persona
O que eu escrevi não é um argumento de um filme no sentido habitual do termo. É algo que se assemelha mais a uma linha melódica que irei orquestrar, assim espero, durante a rodagem com a ajuda dos meus colaboradores. Sinto-me indeciso em relação a numerosos pontos e acontece-me até em determinados momentos não ter a menor ideia do que poderá acontecer. Isto, porque descobri que o assunto por mim escolhido é ele próprio uma imensidão e que a selecção que serei obrigado a fazer das sequências a incluir no filme definitivo (só de pensar nisto fico com calafrios!) não pode deixar de ser necessariamente arbitrária. Por isso eu convoco a fantasia do leitor ou do espectador a fazer uso livre dos elementos que coloco à sua disposição.
I
Penso na película transparente a passar a toda a velocidade através do aparelho de projecção. Virgem de qualquer sinal ou imagem, ela vai permitir ao ecrã reflectir uma luz que crepita. Pelos altifalantes perceberemos apenas o som surdo do amplificador e o leve ruído das partículas de pó que passam pela cabeça de leitura.
A luz estabiliza-se e torna-se mais densa. Sons incoerentes e fragmentos de palavras semelhantes a estalidos breves começam a soltar-se, pouco a pouco, das paredes e do tecto.
Na brancura do ecrã surgem os contornos de uma nuvem, ou talvez seja o reflexo da água, não, é mesmo uma nuvem, ou antes, uma árvore encimada por uma enorme coroa de folhagem, não, é uma paisagem lunar.
O sussurro vai-se amplificando em movimentos ondulatórios e palavras inteiras (incoerentes, longínquas) começam a distinguir-se como sombras de peixes em águas profundas.
Afinal não é uma nuvem, não é uma árvore frondosa, é um rosto cujo olhar fixa o espectador. O rosto de Alma, a enfermeira.
Ingmar Bergman, Lágrimas e Suspiros, seguido de Persona e de Dependência, Assírio Alvim, 2002.
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Pensando na Janela Indiscreta.
a nova "som das letras"*
no mail, o simpático convite para a inauguração do novo espaço da "som das letras".
dia 27 de maio, a partir das 19 horas.
com:
- sessão de música ao vivo;
- teatro de marionetas;
- exposição de fotografia;
na rua joão de deus, nº 1, 1º esquerdo. évora, claro.
e agora, quando se vai da praça do giraldo até ao resende, temos ainda mais motivos para andar de cabeça no ar. de resto, não há que enganar, o sítio é muito fácil de encontrar. e que luz fantástica tem aquela casa. de parabéns estão a anabela e o luís.
no mail, o simpático convite para a inauguração do novo espaço da "som das letras".
dia 27 de maio, a partir das 19 horas.
com:
- sessão de música ao vivo;
- teatro de marionetas;
- exposição de fotografia;
na rua joão de deus, nº 1, 1º esquerdo. évora, claro.
e agora, quando se vai da praça do giraldo até ao resende, temos ainda mais motivos para andar de cabeça no ar. de resto, não há que enganar, o sítio é muito fácil de encontrar. e que luz fantástica tem aquela casa. de parabéns estão a anabela e o luís.
terça-feira, maio 25, 2004
Feira do Livro #1*
Nem tágides nem musas
Nem tágides nem musas:
só uma força que me vem de dentro,
de ponto de loucura, de poço
que me assusta,
seduzindo
Um fonte de fios de água
finíssima
(raio de luar a mais
a secaria)
Nem rio nem lira
nem feminino grupo a transbordar:
só o que herdei em força não herdada,
em fonte onde o luar
não está
Ana Luísa Amaral, Coisas de Partir, Gótica, 2001.
Nem tágides nem musas
Nem tágides nem musas:
só uma força que me vem de dentro,
de ponto de loucura, de poço
que me assusta,
seduzindo
Um fonte de fios de água
finíssima
(raio de luar a mais
a secaria)
Nem rio nem lira
nem feminino grupo a transbordar:
só o que herdei em força não herdada,
em fonte onde o luar
não está
Ana Luísa Amaral, Coisas de Partir, Gótica, 2001.
sósia*
Onde estás? Estou à tua espera para sair de casa. A partir de hoje, só por acaso chove, nenhum passo meu pode deixar de ser teu. É preciso que o mundo permaneça intocável e que também eu, principalmente eu, já não tenha dúvidas sobre a minha imagem.
Onde estás? Estou à tua espera para sair de casa. A partir de hoje, só por acaso chove, nenhum passo meu pode deixar de ser teu. É preciso que o mundo permaneça intocável e que também eu, principalmente eu, já não tenha dúvidas sobre a minha imagem.
domingo, maio 23, 2004
fuga*
Não sei ter certezas
– se as noites começam com uma fuga –
quando escrevo.
E se paro – porque se me demora o amor
entre os dedos – saberei alguma vez
o que é este silêncio?
Sandra Costa
Não sei ter certezas
– se as noites começam com uma fuga –
quando escrevo.
E se paro – porque se me demora o amor
entre os dedos – saberei alguma vez
o que é este silêncio?
Sandra Costa
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"Contra mim inventaron un discurso de máquinas contínuas. Pero eu fuxin de casa en noite alta."
Xosé Maria Álvarez Cáccamo
porque a fuga se faz do não regressar
e nunca do chegar
não temos fim
e porque é a noite que mais convida
ao desapego
faz-se de solidão por dentro
não repousam ainda
os fugitivos quando dormem
cláudia caetano
Xosé Maria Álvarez Cáccamo
porque a fuga se faz do não regressar
e nunca do chegar
não temos fim
e porque é a noite que mais convida
ao desapego
faz-se de solidão por dentro
não repousam ainda
os fugitivos quando dormem
cláudia caetano